terça-feira, 4 de maio de 2010

O Lugar da pologética no Evangelismo Urbano

Rev. Gildásio Reis
A apologética consiste em defender nossa fé perante aqueles que nos pedem razão dela (...). Converter-se ao cristianismo não consiste em deixar de usar o cérebro ou em dizer adeus ao pensamento racional. O objetivo da apologética é tratar dos obstáculos da fé, dando respostas elaboradas e racionais que permitam a nossa audiência ver a coerência da fé cristã

Dentro do contexto que estamos analisando a apologética, podemos afirmar que há pelo menos duas funções para ela:



3.1. Capacitar os cristãos a compartilhar sua fé.

Muitos cristãos não falam de sua fé com os descrentes simplesmente por causa do medo. Eles têm medo de que os não-cristãos possam lhes fazer uma pergunta ou levantem uma objeção que eles não vão saber como responder. E, então, eles escolhem ficar em silêncio e assim escondem sua luz sob o alqueire, desobedecendo a orientação de Cristo (Mt 5.15).



Paul Little nos faz dura, porém verdadeira crítica a nós cristãos, quando negligenciamos esta tarefa de defender nossa fé perante os incrédulos. Ele afirma:
"Com a apologética, podemos perceber a superioridade da cosmovisão cristã, não apenas em questões religiosas, mas em todas as áreas da vida".

O treinamento apologético é um grande impulso ao evangelismo, pois nada inspira mais confiança e coragem do que saber que se tem boas razões para acreditar no que se acredita e boas respostas para as perguntas e objeções comuns que podem ser levantadas. Bom treinamento em apologética é uma das chaves para um evangelismo eficaz e sem medo.



3.2. Demolir as vãs filosofias e limpar o caminho da fé dos possíveis obstáculos.

A advertência do apóstolo Paulo aos crentes de Colossos é muito clara: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”. (Cl 2:8).



Muitos têm uma idéia equivocada do cristianismo. Estão presas a vãs sutilezas e vãs filosofias do mundo (Cl 2.4). Para Paulo, fora de Cristo, não existe nenhuma outra fonte de conhecimento. Paulo mostra que, em Cristo, “todos os tesouros do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). A função da apologética, então, consiste em explicar em que consiste a fé cristã e procurar eliminar os obstáculos ao cristianismo.



A sabedoria genuína; o conhecimento verdadeiro só pode ser achado em Cristo. E para levar uma pessoa a conhecer a Cristo, precisamos remover os obstáculos e desfazer suas vãs filosofias. E para isso, precisamos conhecer as pessoas e sua estrutura de pensamento. Como disse McGrath “Uma das habilidades mais importantes da apologética é saber escutar”

O aspecto pessoal da apologética é vital. A pergunta a ser feita não é: “Que é que faz com que as pessoas não se convertam?”, mas sim, “Que é que faz que este meu amigo não se converte?”. Segundo McGrath:



"A evangelização tem lugar de forma mais eficaz e poderosa cada vez que falamos aos nossos amigos sobre nossa fé e esperança, e intentamos compartilhar com eles o que para nós significa ser cristão".

Por isso precisamos descobrir e respeitar as necessidades das pessoas. Precisamos mostrar a elas que o cristianismo tem resposta para as suas necessidades e ansiedades. Uma boa apologética descansa sobre duas premissas básicas: 1) Temos que saber algo sobre nossos amigos e 2) Precisamos conhecer o cristianismo. Se queremos ser bem sucedidos na evangelização, precisamos investir tempo nestes dois elementos.
“Se permitirmos que as mesmas questões nos derrotem na conversação, vez após vez, estaremos sendo desobedientes. Por nossa própria ignorância, estaremos confirmando os incrédulos em sua descrença".

A Escritura e a Apologética

Rev. Gildásio Reis

O que a Bíblia tem a dizer sobre a apologética?

O cristão deve ter coragem e firmeza para defender o evangelho. Isto porque, cristãos genuínos amam a verdade e refutam o erro. Escrevendo à igreja de Filipos, Paulo disse que os irmãos deviam "lutar juntos pela fé evangélica" (Fp 1.27). Essa fé mencionada aqui por Paulo era o conjunto de verdades que os crentes haviam recebido dos apóstolos e que deviam preservar. A mesma idéia teve Judas, quando escreveu aos seus leitores, exortando-os a batalharem "diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3). De maneira insistente, somos instruídos de que é nossa responsabilidade defender a fé.
 
Ainda escrevendo à Igreja de Filipos, Paulo diz: “Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho” (1:7) e “Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho” (1:16). O termo grego que aparece nestes dois versos para “defesa” é avpologi,an (apologia). Termo este que sugere a atividade de Paulo como líder na igreja, ou seja, a de “defender, desarmar o preconceito e vencer as objeções à mensagem ( cf. 2 Co 7:11 )”

João também nos ensina a necessidade de discernimento: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1 Jo 4:1).

Em I Pedro 3.15, está escrito: “Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. A expressão usada por Pedro “para responder” é avpologi,an (para uma defessa).

John Stott é muito convincente ao afirmar que a pregação evangelística não deve se sustentar em “um apelo emocional e anti-intelectual por "decisões", quando os ouvintes têm apenas uma confusa noção sobre o que é o evangelho. Ele oferece alguns exemplos da importância do uso da apologética na proclamação do evangelho. Dentre eles, a experiência do apóstolo Paulo, e afirma o seguinte:
 
Paulo resumiu o seu próprio ministério evangelístico com as simples palavras "persuadimos aos homens" (2 Co 5.11). Pois bem, a "persuasão" é um exercício intelectual. "Persuadir" é dispor argumentos de forma a prevalecer sobre as pessoas, fazendo-as mudar de idéia com respeito a alguma coisa. E o que Paulo declara fazer é ilustrado por Lucas nas páginas de Atos. Ele nos diz, por exemplo, que por três semanas na sinagoga em Tessalônica Paulo "dissertou entre eles, acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos" e dizendo "este é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio". O resultado, Lucas acrescenta, foi que "alguns deles foram persuadidos". (At 17.2-4). Pois bem, todos os verbos que Lucas emprega aqui, descrevendo o ministério evangelístico de Paulo - dissertar, expor, demonstrar, anunciar e persuadir - são, até certo ponto, verbos "Intelectuais". Indicam que Paulo ensinava um corpo de doutrina e dissertava em direção a uma conclusão. Seu objetivo era convencer para converter.
Ao lermos os Atos dos Apóstolos, fica evidente que era a atitude padrão dos apóstolos argumentar a favor da veracidade da visão Cristã, tanto com Judeus quanto com pagãos. (ex., At 17:2-3, 17; 19:8; 28:23-24). Ao lidar com a audiência Judaica, os apóstolos apelaram para o cumprimento de profecias, os milagres de Jesus, e especialmente a ressurreição como evidência de que ele era o Messias (At 2:22-32). Quando eles confrontaram as audiências gentias que não aceitavam o Antigo Testamento, os apóstolos apelaram para a obra de Deus na natureza como evidência da existência do Criador (At 14:17). Depois apelaram para as testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mostrar especificamente que Deus se revelou em Jesus Cristo (At 17.30,31; 1 Co 15:3-8).



segunda-feira, 26 de abril de 2010

ENTENDENDO O QUE É APOLOGÉTICA.

                                                                                                                                                                                         Rev. Gildásio Reis
A apologética tem sua origem no grego apologia - “defesa”. Trata-se de um ramo da teologia cristã que procura explicar as verdades da fé cristã, de maneira mais racional. De acordo com o Dicionário Houaiss, apologética, é a “defesa argumentativa de que a fé pode ser comprovada pela razão” , ou, conforme McGrath, que entende apologética como “uma apresentação de defesa de suas (da fé cristã) reivindicações de verdade e importância no grande mercado das idéias” . William Craig compreende a apologética como “o ramo da teologia cristã que busca prover fundamentos racionais para as afirmações do cristianismo”.

A apologética, como veremos, tem uma grande importância para a evangelização. No entanto, alguns cristãos desprezam seu valor (da apologética) e justificam dizendo que “ninguém poderá vir a Cristo através de argumentos intelectuais”. Este posicionamento, em essência, revela uma abordagem antiintelectual ao Cristianismo. Esta mesma crítica também foi feita a John Stott. O ponto defendido é que “a pregação do evangelho com argumentação racional estaria usurpando o trabalho do Espírito Santo”. Stott esclarece que tal crítica é improcedente faz referência a J. Gresham Machen, o qual se expressou de modo convincente:

O misterioso trabalho do Espírito Santo tem mesmo que acontecer no novo nascimento. Do contrário, todos os nossos argumentos são completamente inúteis. Mas não podemos concluir que os argumentos sejam desnecessários, pelo simples fato de serem insuficientes. O que o Espírito Santo faz no novo nascimento não é transformar a pessoa num cristão sem dar atenção à evidência, mas, pelo contrário, dissipar a névoa de seus olhos, de forma que possa ver e responder à evidência.

Francis A. Schaeffer, um dos grandes apologistas cristãos, é da mesma opinião de Machen. Para ele não há qualquer contradição em depender do Espírito Santo e fazer uso da razão para comunicar o evangelho. Ele afirma que:


"É importante lembrar, antes de tudo, que não podemos separar a verdadeira apologética do trabalho do Espírito Santo, nem de uma relação viva em oração ao Senhor, por parte do cristão. Precisamos compreender que a batalha, eventualmente, não é somente contra carne e sangue. Contudo, a ênfase bíblica na necessidade de conhecimento anterior à salvação nos influenciará para obter aquele conhecimento necessário para comunicar o evangelho. O cristianismo histórico nunca se separou do conhecimento. Ele insiste que toda verdade é uma só e precisamos viver e ensinar isto, mesmo que o pensamento e a teologia do século vinte o neguem."

A tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar e sustentar um contexto cultural no qual o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes. J. Greshan Machen, em 1913, já advertia sobre o perigo de perdermos a guerra intelectual na tarefa da evangelização. Ele afirmou o seguinte:


"Idéias falsas são o maior obstáculo à aceitação do evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e ainda assim só conseguir ganhar uma alma aqui e ali se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação seja controlado por idéias que impedem que o Cristianismo seja visto como nada mais do que uma ilusão inofensiva".

Como podemos perceber nos argumentos acima, não temos razões de rejeitar o uso da apologética. Primeiramente, trata-se de uma ferramenta de resposta, mas não apenas isso. Conforme Mcgrath, ela tanto trabalha na defensiva apresentando argumentos positivos para as verdades cristãs, bem como, refuta objeções suscitadas contra essas mesmas verdades. Como vamos poder constatar, a apologética, tanto proporciona ferramentas que ajudam os cristãos a defenderem sua fé, como também, edifica e fortalece os cristãos, dando a eles maior segurança naquilo em que crêem.

Entendemos que a guerra não está perdida. Ela ainda está acontecendo. E para não perdermos esta batalha, precisamos nos preparar intelectualmente. No entanto, cabe aqui a ressalva, que por sinal, já foi feita há pouco - que, isto não significa que poderemos racionalmente levar alguém à conversão.

McGrath propõe que a estratégia dos apologistas cristãos é diferente dos demais. Segundo ele, “O cristianismo deve se distinguir por sua relevância para a vida, e não apenas por sua racionalidade intrínseca”.

Corretamente, ele argumenta que a apologética não gera fé, antes, ela prepara o terreno para que a mesma venha germinar. Dito de outra maneira, a “superioridade intelectual” do cristianismo jamais irá criar em uma pessoa o anseio de se relacionar com Deus, pois não existem apenas oposições intelectuais à fé. Sendo assim, argumenta o autor, o apologista deve ser alguém capaz de identificar quais sejam as barreiras à fé (que nem sempre são intelectuais) e se concentrar nelas. Tal postura o autor denomina como “arte”.

Francis A. Schaeffer entendia que em razão do homem moderno estar tomado pelo relativismo, torna imprescindível que as formas de evangelismo também sofram intensas mutações. Uma destas mutações é aliar-se forçosamente a apologética.

Já oferecemos uma definição de evangelismo. Precisamos aqui apenas ressaltar que uma parte da evangelização é explicar o por quê somos cristãos. O que nos chamou a atenção na fé cristã? Porque a nossa vida agora é diferente do que era antes de nos tornarmos cristãos? Sendo assim, já que a apologética é fazer uma defesa da fé, ela torna-se indispensável na prática evangelística.

Antes de prosseguirmos, precisamos fazer uma pequena distinção entre apologética e a evangelização. Enquanto apologética é afirmar a verdade e o atrativo do evangelho, a evangelização é a própria pregação da Palavra. Apologética não deve ser entendido com confrontação, ou ameaça aos ouvintes. A apologética objetiva apenas conhecer os obstáculos à fé e, através de argumentações lógicas, remover estes obstáculos. A evangelização sim exige a confrontação com o pecado e os erros dos ouvintes, e sempre com a exposição do evangelho.

Esta distinção é muito importante. Evita confusão e mudança de foco, para não perdermos de vista a natureza da evangelização, conduzindo apenas a um debate vazio e acadêmico. Mark Dever faz um alerta sobre isso, dizendo que, frequentemente, as pessoas cometem este erro por pensarem que defender a fé respondendo as perguntas e objeções dos céticos é evangelismo.

A apologética pode certamente, e frequentemente, levar ao evangelismo. Mas a menos que Jesus seja apresentado como a única provisão de Deus para o pecado do homem e o arrependimento e a fé sejam apresentados como o único caminho de obter o perdão diante de Deus, o exercício permanece meramente acadêmico e cognitivo.

McGrath usa a seguinte analogia, a qual, penso que esclarece esta distinção:

A evangelização pode ser entendida como um ato de oferecer pão a alguém. A apologética, persuade a este alguém, de que o pão está ao seu alcance e que ele é bom para se comer (minha tradução)
Schaeffer, assim como Mcgrath, faz distinção entre as duas. E para ele a apologética deve ser vista como uma “pré-evangelização”. O significado disso é que a verdade vem antes da conversão. Para alguém tornar-se um cristão, precisa ter conhecimento da verdade. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8.32).

Assim, devemos concordar com Macgrath. A apologética deve ser usada a fim de remover os obstáculos à fé, pois esta não é um salto no escuro. A credulidade ingênua não ajuda a fé verdadeira; na verdade, é sua inimiga. A fé deve estar fundamentada em provas sólidas. Por isso, Schaeffer entende que a apologética cristã é uma pré-evangelização, e ela “tem duas finalidades. A primeira é a defesa. A segunda é comunicar o cristianismo de modo que qualquer geração possa entendê-lo”

Rev. Gildásio Reis

A APOLOGÉTICA NA EVANGELIZAÇÃO

Introdução: Certa vez um professor de escola dominical perguntou “O que é fé?” De pronto, uma criança respondeu: “Fé é quando você crê de todo o coração em algo que você sabe que não existe!”

Com este exemplo, Paul E. Little (1928–1975) dá início a um tema de extrema relevância para a vida do cristão - mostrar que devemos rejeitar a idéia de que a fé cristã é desprovida de razões que justificam crer naquilo que cremos. E além disso, devemos procurar conhecer bem nossa fé para defendê-la diante de seus críticos.

G. K. Chesterton (1874-1936) observou que “o cristianismo era atacado de todos os lados e por to¬das as razões contraditórias” . E Schaffer, igualmente afirmou: “o cristianismo histórico será atacado em todas as épocas”.

Em nossos dias, pelas mais diversas razões, a fé cristã tem sido alvo de muitas críticas. Precisamos admitir que boa parte destes ataques deve-se em razão da própria complexidade do cristianismo. Complexidade esta que muita gente, especialmente, os não-cristãos, não tem a mínima compreensão. E muitas outras críticas são infundadas, superficiais e levianas. Dai um forte motivo para utilizarmos a apologética e estarmos bem preparados para dar respostas a estas acusações e incompreensões.

Temos um bom exemplo da superficialidade destas críticas. Em um debate, quando um socialista de nome Blatchford citava as razões pelas quais não con¬seguia aceitar o cristianismo, Chesterton respondeu de maneira bem-humorada: "Se eu oferecesse todas as minhas razões para ser cristão, a grande maioria seria exatamente as razões que o senhor Blatchford daria para não o ser".

Temos dois grandes objetivos com este curso. Primeiramente, preparar cristãos para dar respostas às objeções dos não-cristãos. E num segundo plano, fortalecer nossa fé como cristãos. Paul Little fez uma afirmação sobre este segundo objetivo:

Quando alguém nos diz que a única razão de crermos é devida a nossos pais e nosso passado religioso, devemos poder mostrar a nós mesmos e aos outros que o que acreditamos é objetivamente verdadeiro, independentemente de quem nos disse.

Francis Schaeffer, também entende que há pelo menos duas razões para fazermos uso da apologética. Ele diz:

"Tais respostas são necessárias, em primeiro lugar, para mim mesmo, como cristão, caso queira manter minha integridade intelectual e se estou mantendo unidas a minha vida pessoal, devocional e intelectual. Em segundo lugar, essas respostas são necessárias por amor àqueles por quem sou responsável".
 

Pensando na primeira razão para usarmos a apologética, é bom saber que não precisamos ficar na defensiva sempre que nos vemos em meio a conversas informais, onde o evangelho é questionado ou nossa fé é criticada. Não precisamos nos sentir acuados diante dos questionamentos dos incrédulos. Temos e precisamos oferecer respostas às suas indagações.

Alguns irmãos podem ficar assustados, ao ouvirem a palavra “apologética”, pensando que seu uso é uma especialidade reservada apenas aos “grandes” intelectuais cristãos. Mas não é bem assim. Defender a fé pode ser bem mais simples. Edward Veith, nos ensina que

Uma das melhores maneiras na qual os cristãos podem testemunhar a alguém hoje, tanto para os inimigos ativos quanto para o número bem maior de ignorantes e indiferentes, é simplesmente informá-los objetivamente do que se trata a fé cristã. Normalmente, não é necessário discutir, envolver-se em discussões exotéricas profundas, ou até mesmo defender-se. Simplesmente explicar.

Rev. Gildásio Reis (Th.M)



sábado, 27 de março de 2010

PORQUE FREUD REJEITOU DEUS?

Por Gildásio Jesus Barbosa dos Reis

Obra Resenhada:

RIZZUTO, Ana Maria. “Porque Freud rejeitou Deus?”

Sobre a autora: Ana Maria Rizzuto é analista supervisora e treinadora no Psychoanalytic Institute Of New England, East. Recebeu em 1996 o Prêmio William C. Bier da American Psychalogical Association e, em 1997, O Prêmio Pfister da American Psychiatric Association por suas contribuições ao estudo da religião. A Editora Sinodal publicou um de seus livros – “NASCIMENTO DE DEUS VIVO, O - UM ESTUDO PSICANALÍTICO” (1979)

Rizzuto é conhecida nos meios psicanalíticos nos Estados Unidos e Europa pela seriedade de seu trabalho científico e pela contribuição específica que tem dado ao estudo psicanalítico da religiosidade.

Sobre a sua obra “Porque Freud rejeitou Deus?”

Sigmund Freud conhecido como um dos grandes pensadores do século XX. Conhecido como o pai da psicanálise, também se empenhou em analisar algumas das grandes questões da humanidade. Dentre estas, o maior esforço talvez tenha sido dedicado á questão da religião. A esse assunto, ele dedicou várias passagens na sua obra, sendo que dentre elas se destacam, Moisés e o Monoteísmo e o ensaio intitulado O futuro de uma ilusão , este último li recentemente, e espero mais futuramente, fazer um contraponto com o pensamento de João Calvino.

“Educado no judaísmo, muito cedo Freud fez a opção por um caminho muito distinto do que aprendera em seus anos de infância, junto à sua família que era religiosa”. Porque Freud rejeitou Deus trata-se de uma obra baseada em intensas pesquisas documentais. O livro, dividido em 12 capítulos, prende a nossa atenção pelo conteúdo denso e por ser de agradável leitura. Como ela mesma diz no prefácio (cf. p. 11 e 12) da obra, ela parte de uma visita que fez, em 1992, a uma exposição, onde ficou impressionada com a coleção de antiguidades de Freud. Na exposição está uma bíblia ilustrada de Philippson que ele ganhou de seu pai em 1891. Ela então, percebe a estreita correlação entre as figuras da bíblia e as estatuetas da coleção. Na sequência da pesquisa ela descobre que a coleção começou após a morte do seu pai Jakob, em 1896. Daí ela usa o livro para demonstrar e responder a questão de Deus na vida de Freud, passando pela figura do pai, da mãe e de sua religiosidade.

Breve síntese

Capítulo 1: A autora intitula “A compulsão de Freud por Colecionar antiguidades”. Neste ponto, Rizzuto procura estabelecer a relação entre a coleção e a morte do pai de Freud.

Capítulo 2: “A História da Família” - e no Capítulo 3 “Jakob e Catástrofe”, a autora descreve vários eventos que marcaram a história de Freud em família.

Capítulo 5: “A Dedicatória e a resposta de Freud”, mostra a relação de Freud com seu pai, e as razões de Freud para deixar de dar atenção à Jakob.]

O capítulo 6 e 7 são investigadas as influências que a Bíblia de Philippson teve na pessoa de Freud e a interpretação da relação desta Bíblia e com seu pai. O Capítulo 8 descreve a religiosidade de Freud, mas que depois, nos anos de estudos de medicina, viria a se tornar um ateu. É no caítulo 9 que Rizzuto desenvolve as teorias de Freud sobre a religião. No capítulo 10 e 11, a mãe de Freud, Amalie Freud, nos é apresentada e como foi o relacionamento entre ela e seu filho.

É no capítulo 12 que Rizzuto aplica as idéias de Freud a sua própria descrença, pois, conforme ela mesma afirma, as normas psíquicas que favorecem a crença devem também condicionar a descrença (Rizzuto p. 224)

Análise crítica

A autora interpreta elementos contidos na teoria freudiana e em seu desenvolvimento para mostrar as razões que fizeram de Freud um opositor ferrenho da religiosidade e suas instituições.

A obra de Rizzuto é riquíssima em informações sobre o desenvolvimento de Freud e as circunstâncias de sua vida. Ela elabora uma interpretação psicodinâmica da rejeição a Deus, afirmando que a vida e as relações familiares de Freud impossibilitaram-lhe acreditar num ser divino providente e protetor. O livro reconstrói aspectos significativos da relação de Freud com seu pai e sua mãe, sua ama-leite e outros parentes próximos e esboça sua evolução religiosa, desde as crenças convencionais de um jovem a até a descrença do adulto.

Porque Freud rejeitou a Deus –trás uma interpretação a respeito das raízes psicodinâmicas do ateísmo de Freud retoma não só as indicações anteriores, mas as integra e supera de modo magistral e elegante.

O que caracteriza sua pesquisa sobre o percurso que levou Freud a rejeitar tão radicalmente a idéia de Deus não é a discussão teórica dos conceitos da psicanálise. A atenção de Rizzuto se volta, em um trabalho de detalhada garimpagem analítica, é para os vínculos inconscientes e conscientes que Freud estabelece com as pessoas significativas que marcam sua infância, já na fase pré-edipiana. Cumulando uma lacuna que se deve ao próprio Freud – sempre mais preocupado em vincular a atitude religiosa aos laços estabelecidos na fase edipiana com o pai – Rizzuto traz dados interessantíssimos sobre suas vinculações com a mãe e com a famosa ama que o levava à Igreja Católica, para grande alegria do menino então de tenra idade. Há outros detalhes preciosos, do ponto de vista interpretativo, no material levantado por Rizzuto, no intuito de mostrar como o mundo de Freud estava marcado, em seus detalhes, por antigas experiências removidas no nível do inconsciente.

O raciocínio de Freud em favor de suas teses anti-religiosas, como sabemos é muito complexo. Enfatizo que, para Rizzuto, a consideração em torno da formação da imagem de Deus de Freud não invalida a força de seus argumentos e teses científicas sobre a religião. Essa é uma questão que Rizzuto prefere não afrontar, dizendo, porém, que diverge tão somente do reducionismo racionalista de Freud e não da psicanálise que ela cultiva há vários anos. Para Rizzuto é indispensável que olhemos com mais objetividade para a origem autobiográfica de alguns dos elementos constitutivos de algumas das hipóteses de Freud sobre a religião e a formação da imagem de Deus, como ela mesma demonstrou em seu livro: "O nascimento da idéia do Deus vivo", de 1979.

Rizzuto decidiu-se a investigar mais a fundo aquela interessante coincidência. Ela examinou com atenção cada detalhe da vida do fundador da psicanálise, procurando aí as raízes de seu ateísmo militante. Ela demonstra que as experiências familiares vividas por ele no seio de sua família, com a mãe, o pai, a ama de leite etc tornaram psicologicamente impossível nele a formação de um Self capaz de "acreditar em" e de aceitar relacionar com um Deus providente, por ele nunca vivenciado como "suficientemente bom". Ao criticar, em sua auto-análise as ilusões infantis e juvenis que foi reconhecendo em suas representações de Deus, Freud teria optado, segundo Rizzuto, por recusar a possibilidade de reconhecer a existência de Deus. Preferiu firmar-se em uma posição racional que para ele superava aquela "ilusão", tornando-a desnecessária. Da crítica daquelas ilusões ele, ao que parece, nunca logrou passar à sublimação e transformação dos desejos e medos infantis nelas expressos. Os vínculos mais profundos de "não acreditar em" permaneceram por baixo de sua cerrada argumentação teórica.

A tese racional de que "a religião perpetua a ilusão infantil de estar protegido por um pai bondoso" e de que "adultos maduros devem se libertar do anseio da infância por esse pai", não foi aceita por Rizzuto (Rizzuto, 2001, 14 ). Ela pesquisou detalhadamente a biografia de Freud, buscando indícios que mostrassem que, por baixo de sua densa argumentação racional existiam vínculos inconscientes cuja raiz guardava ambigüidades ditados pelo inconsciente. Um ponto pouco conhecido e amplamente trabalhado por ela é dos laços de Freud com sua mãe, que propiciam uma visão nova de seus relacionamentos com o pai.

Rizzuto termina sua obra, lamentando sua dificuldade de não poder falar diretamente com o pai da psicanálise, tendo que se “contentar com as migalhas deixadas pelos seus biógrafos”

Nesta pesquisa, a mesma que ela, como psicanalista, está acostumada a fazer com seus clientes no divã, ela diz que sua busca foi guiada por "Freud mesmo...com suas teorias sobre a formação e a transformação das representações de Deus e as emoções ligadas a elas"[...] E conclui: "Suas teorias sobre a religião podem ser lidas como uma psicobiografia não propositada da sua transformação particular e impremeditada em um "judeu sem Deus" . (p. 255).

RESENHA: A Igreja Católica

Por Gildásio Reis

I. Referência bibliográfica

Küng, Hans. A Igreja Católica. Rio de Janeiro, Objetiva. 2002, 263p. (Coleção História Essencial)

II. Apresentação do autor da obra

Hans Küng nasceu em 19 de Março de 1928 na Suíça. Entrou para vida religiosa estudando na Universidade Gregoriana em Roma e Paris, sendo ordenando padre católico-romano em 1954 e em 1957 concluiu seu doutoramento em teologia com a tese Justification, em que trata da questão da justificação da fé. Tornou-se professor de teologia da Universidade de Tübigen (1960-1996) na Alemanha, onde também a partir de 1963 dirigiu o Instituto de Pesquisa Ecumênica. Teve papel fundamental no Concílio Vaticano II sendo nomeado peritus (consultor teológico) pelo Papa João XXIII e ajudou na redação das conclusões do concílio que renovou áreas fundamentais do ensino e das práticas católicas. (dados extraídos da Introdução do livro feita pelo autor)
Desde os anos da década de 1960 Küng foi um dos críticos mais severos da Infalibilidade Papal, publicou em 18 de janeiro de 1970, centenário da declaração da infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, o livro Infallible? An Inquiry em que esmiuçou e rejeitou o caráter infalível de qualquer decisão papal e da cúria. Em 1979 publicou nos principais jornais do mundo seu artigo Um ano de João Paulo II que demonstrou o reacionarismo do papa ao aceitar só nominalmente o Concílio Vaticano II, quando na substancia fortaleceu a centralização curial, impôs o culto a personalidade, endossou a exclusão das mulheres do sacerdócio e a permanência do celibato; como conseqüência desse artigo e sua críticas a infalibilidade, teve sua licença para lecionar como teólogo católica cassada pelo Papa João Paulo II. (cf. pg 16)

Depois da proibição foi nomeado professor de teologia ecumênica de Tübigen onde pode desenvolver seus estudos sobre ecumenismo em particular com relação ao Luteranismo; nesta tarefa Küng se sente totalmente à vontade já que se dedica prioritariamente à união dos povos, das raças, das religiões, enfatizando o que há de comum entre eles, relativizando o que os separa. Em sua tese de doutorado , Justificação em 1957 já tinha chegado a conclusão da possibilidade de um acordo teológico entre catolicismo e luteranismo que foi efetivamente realizado em 1999.

Küng se aposentou como professor em 1996 e logo a seguir foi eleito presidente da Fundação Ética Global de Tübigen.
Considerado como o teólogo mais polêmico e problemático de hoje, seus 70 anos apresentam, em retrospectiva, um panorama esplêndido de atividade acadêmica, científica e literária como muito poucos podem oferecer. Seu pensamento destina-se a esclarecer o genuinamente cristão e católico, desmascarando, sem medo, tudo o que de espúrio e corrupto se introduziu no cristianismo ao longo de sua história de séculos. O viver e o acontecer da Igreja é seu campo de pesquisa e sua luta, que o levaram a enfrentamentos, acareações e condenações da Igreja oficial.

III. Breve síntese da obra
Hans Küng, um dos pensadores católicos mais influentes da atualidade, conhece bem de perto a Igreja Católica e suas contradições. Nesta obra, A IGREJA CATÓLICA, contendo 8 capítulos, Küng nos oferece um relato conciso, mas contundente, e como ele mesmo afirma, “como alguém que estudou esta história a vida inteira e viveu parte dela”.
A IGREJA CATÓLICA” trata-se de um texto envolvente, o livro descreve, passo a passo, a trajetória da Igreja que se tornou a mais poderosa representante do cristianismo, desde suas origens na Palestina e em Roma, passando pelas disputas da era medieval e pela Reforma, até a era moderna.

1. Os Primórdios da igreja
O autor procura dar uma visão histórica da Igreja Católica que compreende o período do primeiro século. Discorre sobre o significado do termo “igreja” e fala da “primeira igreja” destacando nas pessoas de Pedro e de Paulo sua principal liderança.
Hans Kung afirma que o apóstolo foi à figura chave para a mudança de paradigma do cristianismo judaico para o cristianismo gentio.

2. A Igreja Católica Inicial.
Este capítulo cobre os séculos 2 a 4. Aqui, o autor descreve um pouco sobre a organização da igreja inicial, fazendo destaques sobre a liderança dos bispos e diáconos, sobre a perseguição que aconteceu sob Dominiciano (81-96), Nero (64) e depois descreve alguns apontamentos sobre o judaísmo.

O autor ainda chama a atenção para os primeiros mártires da igreja, dentre eles, Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna, bem como algumas mulheres que também foram martirizadas como Blandina, Perpétua e Felicidade.
Neste capítulo, Hans Kung escreve sobre os grandes apologistas como Justino e Orígenes. Este último, o primeiro mártir verdadeiro gênio entre os muitos padres da igreja. pg. 53

3. A Igreja Católica Imperial

Neste capítulo, o autor descreve a história da igreja Católica no período do Império Romano, quando em 325, Constantino Tornou-se o soberano do Império Romano e a partir daqui, o cristianismo passa a ser a religião do Estado.

Neste período da Igreja Estatal surgem os teólogos como Agostinho de Hipona (354-430). Hans Kung descreve a atuação de Agostinho e sua contribuição para o cristianismo na cristandade.

4. A Igreja Papal.

Deixando a igreja sob o império, passa-se agora a fazer uma discrição da igreja sob o domínio dos papas. Aqui, Hans Kung, como escritor, mas com rigor científico, revela a realidade do cristianismo vivido durante o período conhecido como Idade Média. Ele, o autor, expõe os erros do papado, fazendo duras críticas dizendo inclusive que o papado ampliou seus poderes através de fraudes explícitas.

5. A Igreja Está Dividida.

Este período, que vai do séc. X até a Reforma do séc. XVI é descrito pelo autor como uma fase difícil onde a igreja sofre uma grande divisão em razão de suas divisões e crises internas. É o período das Cruzadas e das Inquisições.

6. Reforma da Igreja, Reforma ou Contra-Reforma/?

O autor descreve a vida da Igreja católica, o novo mundo que a influencia (iluminismo) e expõe sua visão sobre a atuação de Lutero e os desdobramentos que chegaram à Reforma. Hans Kung reconhece que o Reformador estava certo em suas propostas reformistas, mas sem deixar de frisar que Lutero tinha também seus exageros. (Citação da pág 166)

Hans Kung termina este capítulo descrevendo a Contra-Reforma Católica Romana.



7. A Igreja Católica Romana.

O período onde a razão humana é o principal valor da modernidade – pg. 187

Desenvolveu-se a crença na onipotência da razão e na possibilidade de dominar a natureza. Este período, chamado de Iluminismo, trouxe alguns problemas para a Igreja Católica, dificuldade esta que não seria preocupante, caso a Igreja Católica soubesse enfrentar a revolução cultural que estava no cenário.

8. A Igreja Católica- Presente e Futuro.

Hans Kung pensa agora a Igreja Católica do séc. XIX. E a grande observação que ele tece sobre a Igreja Católica Romana neste período é o silêncio desta quanto ao Holocausto. Faz algumas observações sobre o papado neste séc. – dentre os vários papas, ele afirma que João XXIII (1958-1963) foi o papa mais importante do séc. XX.

O autor faz uma avaliação do Concílio Vaticano II e destaca os seguintes pontos positivos do mesmo:

a. Várias associações cristãs foram reconhecidas como igreja. Neste Concílio houve uma clara defesa do Ecumenismo.

b. Há um novo respeito pela Bíblia, culto e pela teologia.

c. Houve uma valorização para o laicato

d. Houve uma reforma da devoção popular.

e. O papa reconhece os erros cometidos contra o judaísmo pela Igreja Católica.

f. O reconhecimento público de há também a salvação para aqueles que estão fora do cristianismo até para judeus, ateus e agnósticos.

g. Houve a valorização da cultura e da modernidade.

Conclusão: Que Igreja tem Futuro.

Ele conclui sua obra relatando quatro condições que a Igreja Católica precisa preencher para que ela tenha futuro:

1ª.) Ela não pode regredir aos postulados da igreja medieval.

2ª.) Não pode ser patriarcal. Precisa dar espaço para as mulheres.

3ª.) Não pode ser estreitamente confessional.

4ª.) Não pode ser exclusivista, mas precisa ser tolerante e universal.

IV. Pensamentos do autor que destaco na obra.
1º.) Não se pode afirmar que os bispos sejam sucessores dos apóstolos no sentido estrito. Hans Kung afirma ser impossível encontrar na fase inicial do cristianismo uma cadeia ininterrupta de imposição de mãos dos apóstolos até os bispos de hoje. Pg 48

2º.) Aponta dois erros de Agostinho: 1. Por ter procurado justificar teologicamente as conversões forçadas, a inquisição e a Guerra Santa contra os invasores. Pg 77 e o segundo erro, por ter legado a toda a Igreja Católica do Ocidente à doutrina do pecado original como sendo o pecado sexual. Pg. 78

3º.) A clara explicação da natureza e conteúdo da obre magna de Santo Agostinho – “A Cidade de Deus” – pg. 81-82

4º.) A coragem de expor os erros da liderança papal, afirmando que os papas, em sua maioria, ampliavam o poder com fraudes explícitas. Pg. 91

Hans Kung demonstra esta ousadia ao comparar o pontificado de João Paulo II a João XXIII. Em comparação aos sete anos gordos da ICR que coincidiram com o pontificado de João XXIII (1958-1985), os três vezes sete anos de João Paulo II são magros em substância (pg. 237). “Se João XXIII foi o papa mais importante do séc. XX João Paulo II é o mais contraditório” pg. 242

5º.) Ao escrever sobre a Reforma Protestante do séc. XVI demonstra honestidade e isenção ao dar detalhes que levaram à Reforma, reconhecendo que Martinho Lutero estava certo em suas posições.

Citação pg. 166

6º.) Lamenta a reação que a Igreja Católica teve para com o modernismo. Segundo ele, a Igreja Católica deveria acompanhar as mudanças e não adotar uma postura reacionária e medieval como fez. Pg. 187.

7º.) Sua crítica ao dogma de pio IX da Imaculada Concepção de Maria, de 1854.

Diz Hans Kung: “Não encontramos uma palavra na Bíblia nem na tradição católica do primeiro milênio sobre este assunto”, Pg. 204

8º) Ele é de opinião que a ICR não deveria ter se silenciado sobre o Holocausto, pois ao fazê-lo recusou-se a fazer um protesto moral- pg. 223

9º) Sua avaliação sobre o Vaticano II (1962-1965) é de grande importância, onde segundo ele, para a ICR onde este representou uma grande virada. – pg. 226

Conclusão pessoal

O texto de Hans Küng é pontuado com perguntas instigantes: terá Jesus de Nazaré fundado uma igreja? Jesus era católico? Küng examina também questões fundamentais como: o celibato; a tensão histórica na Igreja entre pluralismo e exclusivismo; a mudança do papel do papa; as motivações dos grandes pontífices reformadores; a evolução das funções dos concílios, dos bispos e dos cardeais; o entusiasmo da instituição pela atividade missionária; as origens do culto mariano e as ondas de choque da Reforma e da Contra-Reforma que ainda podem ser sentidas hoje. Ao final, o autor faz uma avaliação rigorosa de como a fé católica enfrenta certos aspectos do novo milênio, como os avanços da ciência, as conquistas sociais das mulheres, a liberação sexual e a reforma das escrituras da Igreja.

Por suas idéias que preconizam uma reforma radical do catolicismo de acordo com o critério do evangelho, Hans Küng sofreu represálias e punições do Vaticano.

Termino citando a advertência que o autor fez no prefácio:

"Aqueles que até agora não foram seriamente confrontados com os fatos da história podem ficar chocados ao constatar quão humano foi o curso dos acontecimentos em toda parte, de fato, quantas das instituições e constituições da igreja — e especialmente a instituição central romana católica do papado – são feitas pelo homem. No entanto, este mesmo fato significa que estas instituições – o papado em particular – podem ser modificadas e reformadas. Minha ‘destruição’ crítica é oferecida a serviço da construção, reforma e renovação, para que a Igreja Católica possa continuar viva no terceiro milênio." Pg 24

domingo, 14 de março de 2010

O Presbítero na perspectiva do apóstolo Paulo

Sua natureza e responsabilidade

A importância que Paulo confere à liderança do presbítero pode ser imediatamente constatada no fato de que em todas as igrejas, por ele fundadas e sob sua orientação, promovia-se a eleição destes oficiais. Lemos em Atos que, passando ele pelas cidades de Listra e Antioquia, em sua primeira viagem missionária, em cada igreja, promovia “ a eleição de presbíteros” (Atos 14:23). Escrevendo a Tito (1:5) disse: “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi”. Escrevendo à igreja de Éfeso, ele nos informa que ali já havia presbíteros: “De Mileto, mandou a Èfeso chamar os presbíteros da igreja” (Atos 20:17).

Não é de somemos importância, o valor que tinha para a igreja tal ofício. Sendo assim, faz-se necessário olhar para o mesmo e ver seu lugar e valor para a igreja atual. A nossa discussão sobre o tema será abordado sob dois aspectos: sua natureza e sua responsabilidade.

I. UMA DEFINIÇÃO DE TERMOS

Primeiramente, é necessário definirmos três termos que são utilizados nos escritos de Paulo, para descrever este ofício na igreja: Bispo, Presbítero e Pastor.

1. Episcopos. Literalmente, significa “supervisor” (formado de epi, “por cima de”, e skopos “olhar”, “vigiar”). Referindo-se ao líder da Igreja, aparece 5 vezes no Novo Testamento, sendo 3 vezes nos escritos de Paulo ( cf. I Tm 3:2, Tt 1:7, Fp1:1), 1 vez em Lucas e em Pedro (Atos 20:28; I Pe 2:25 ) . Em todas estas cinco ocorrências, refere-se a natureza da tarefa daqueles anciãos (presbíteros), ou seja, a tarefa de supervisionar o rebanho.

2. Pastor (poimene): O termo aparece 18 vezes no Novo Testamento, 17 delas fazendo referência a Jesus como Pastor . É surpreendente verificar que a palavra pastor (poimh.n), pelo menos em sua forma substantivada, não é usada para designar um ofício na igreja. Ela sequer aparece nas Epistolas pastorais. Como substantivo, designando o oficio, ela aparece apenas uma única vez no Novo Testamento em Ef. 4:11 “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores (poimena) e mestres (didaskalos)”. Todas as outras vezes em que ela ocorre no Novo Testamento, ocorre ora fazendo referência a um “pastor” de ovelhas, ora se referindo a Jesus como pastor. (Cf. João 10 ). Já o verbo poimai,nw (poimaino) que aparece 11 vezes no Novo Testamento, sempre faz referência a responsabilidade dos presbíteros que exercem seu ministério pastoralmente.

3. Presbítero (presbuteroi): Aparece três vezes nas epístolas pastorais ( ITm 5:17,19 e Tito 1:5,7). Transliterado do grego, presbiteros significa: “velho”; teroj, grau comparativo, significa: “mais”. Etimologicamente, presbíteros são “os mais velhos, mais maduros”. Sendo assim, a palavra presbítero, tem a ver com a idade e dignidade, exatamente como vemos em Israel . Wallace diz que “O ancião em Israel obtinha inicialmente, sem duvida, sua autoridade e seu status, bem como seu nome, da sua idade e da sua experiência”

II. RELAÇÃO ENTRE OS TERMOS PRESBÍTEROS E BISPOS.

Tendo dado uma definição destes três termos, podemos ser levados a pensar que trata-se de pessoas diferentes, desenvolvendo três ministérios distintos. Mas à luz do pensamento de Paulo, os termos episkopos e presbuteros são empregados um pelo outro, intercambiavelmente .

Tomamos primeiramente o registro que Lucas faz em At 20:17,28 mostrando o pensamento paulino sobre este termos. No verso 17 Lucas descrevendo uma iniciativa do apóstolo diz: “De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros (tou.j presbute,rouj) da igreja”. Aqui o vocábulo utilizado por Lucas é presbítero e no verso 28, ele substitui o termo presbítero por bispo - “atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito vos constituiu bispos para pastoreardes a Igreja de Deus”. É nítida a naturalidade como o uso destes termos se alternam.

Vejamos ainda um outro exemplo. Ao lermos em I Timóteo 3, as qualificações exigidas para se exercer o oficialato, Paulo faz uso do termo bispo: “é necessário portanto que o bispo...”;. Devemos ter em mente, portanto, que o apóstolo está escrevendo a Timóteo que na ocasião estava em Èfeso (cf. I Tm 1:3). Em I Tm 5:17, ainda escrevendo à Igreja de Éfeso, Paulo diz que “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem...” Note como Paulo ao falar da liderança da igreja de Éfeso, alterna o uso dos termos – ora chamando-os de presbíteros, ora de bispos.

Em Tito 1:5-7 também notamos este intercâmbio com os dois termos. No verso 5 ele diz “Por esta causa, te deixei em Creta para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, como lhe prescrevi”. No verso 7, ele preferencialmente, utiliza o termo bispo em lugar de presbítero. – “Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível...” (cf. I Tm 3:1; 4:14; 5:17,19;).

Paulo trabalha alternando os substantivos, sem que com isso, deixe entender que esteja tratando de ofícios distintos. Em outras palavras, os dois termos descrevem a mesma pessoa dentro do mesmo cargo. Podemos ainda observar, que a lista de requisitos para o presbítero em Tito 1:5-9 é semelhante à lista que apresenta as exigências para o bispo conforme lemos em I Timóteo 3:2ss. A conclusão parece óbvia, a lista não poderia ser diferente, pois Paulo está descrevendo um mesmo ofício.

Ainda há outro texto o qual nos ajuda a comprovar que tais termos são sinônimos para Paulo. Escrevendo aos filipenses (Fl 1:1) ele diz: “...a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos, que vivem em Filipos”(grifo nosso). Observe que Paulo usa o vocábulo bispos, mas é de nosso conhecimento, que em Filipos já havia presbíteros, pois durante sua primeira viagem missionária (cf. Atos 14:23), ele promoveu a eleição de presbíteros em cada igreja. Foi exatamente durante esta viagem que o apóstolo organizou a Igreja de Filipos (cf. At 16). Sendo assim, poderíamos perguntar: Se já havia presbíteros na igreja de Filipos, por que Paulo mencionaria os bispos e diáconos, esquecendo-se dos presbíteros? É possível concluir, dizendo que, ele não se esqueceu dos presbíteros, mas sim, que bispos e presbíteros são termos que Paulo usa para descrever o mesmo ofício. Assim, nos parece certo afirmar categóricamente que bispo e presbítero são sinônimos para o apóstolo Paulo.

III. A PLURALIDADE DE PRESBÍTEROS

Um outro aspecto a ser estudado envolvendo este ofício, e à luz dos escritos paulinos, é se o apóstolo defende uma pluralidade de presbíteros ou um único presbítero governando a igreja com autoridade sobre todos os demais.

Augustus H. Strong, teólogo batista, o qual não aceita a pluralidade, defende que não encontramos no Novo Testamento base ou nenhuma exigência para ela. Ele diz :

Em algumas igrejas do Novo Testamento parece ter havido uma pluralidade de presbíteros (At. 20:17; Fp 1:1; Tt 1:5); contudo, não há nenhuma evidência de que o número de presbíteros era uniforme ou que a pluralidade que frequentemente existia se devesse a qualquer outra causa que não seja o tamanho das igrejas que eles cuidavam. O exemplo do Novo Testamento, conquanto permita a multiplicação de pastores assistentes conforme a necessidade, não requer uma pluralidade de presbíteros em todos os casos; nem esta pluralidade de presbíteros, onde existe, se torna autoridade coordenada a uma igreja.

Strong, utilizando-se das passagens de ITm 3:2, 8, 10, 12 e Tt 1:7 argumenta que, ao falar do bispo, Paulo usa o termo no singular e ao falar dos diáconos, usa no lural , querendo com isso, dizer que o Apóstolo ensina um governo congregacional, com um único presbítero ou bispo governando sobre um conjunto, um grupo de presbíteros.

Este argumento de Strong não se sustenta diante de uma exegese do texto paulino. Primeiramente, precisamos considerar o contexto gramatical. A maneira como o apóstolo faz uso do singular era mais do que natural, em razão de ter dito no v.1 “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” ( ITm 3:1), ou “alguém que seja irrepreensível . . .” (Tito 1:6 ). Além disso, não podemos ignorar o fato de que o artigo definido no grego pode ser entendido como uso genérico; ou seja, Paulo está descrevendo qualificações gerais que se aplicam a qualquer exemplo; em outras palavras, o uso do artigo definido aqui é representativo.

Ao comentar I Timóteo 3:2, Gordon D. Fee faz a seguinte observação sobre este uso do singular por Paulo:

O fato de que to.n evpi,skopon (“o bispo”) está no singular aqui, tem levado alguns a argumentar que este ofício representa o monoepiscopado (uma única pessoa como pastor) ao passo que o plural diako,nouj (“diáconos”) serve sob as ordens dele (como a maioria das igrejas protestantes contemporâneas). Contudo, o singular aqui é quase certamente genérico, como “a mulher”, em 2:11,12. A pista segura para esta opinião, além do plural em 5:17, é Tito 1:5 e 7, onde o plural “presbíteros”aparece no v.5 e, depois, passa para o singular genérico nos vv. 6 e 7. Além do mais, o “se alguém”no v.1, que levou o verbo ao singular neste versículo, é sentença condicional, ou generalizadora, não limitadora. Ela aparece em 1 Timóteo 5:8 e 6:3, e em ambos os casos – esp. 6:3 – refere-se a um grupo de mais de uma pessoa.

Uma segunda objeção que precisamos fazer à interpretação de Strong é que, em Éfeso, bem como em Creta, havia uma pluralidade de Presbíteros. Em At. 20:17 lemos:“De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros (tou.j presbute,rouj) da Igreja” e em Tito 1:5, Paulo diz: “Por esta causa, te deixei em Creta, para quem pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros (presbute,rouj) conforme te prescrevi”. Notamos que o substantivos estão no plural e não no singular, indicando com isto, uma pluralidade de presbíteros.

Podemos ainda observar que Strong erra em não considerar que na própria carta a Timóteo (ITm 5:17), o apostolo diz: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros (presbu,teroi) que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”

O pensamento de Strong é também insustentável à luz de At 14:23 - “E promovendo-lhes em cada igreja, a eleição de presbíteros...”. Como já dissemos, Paulo nos informa que durante a sua primeira viagem missionária, ele já promovera a escolha de presbíteros. O texto é enfático,“promovendo-lhes, em cada igreja a eleição de presbíteros”.

Diante destas considerações, somos convencidos, de que a pluralidade e não o episcopado monárquico, é o ensino das Escrituras. A referência às qualidades exigidas para um “bispo”, como por exemplo, em I Timóteo 3, não oferece apoio algum para a teoria de um episcopado monárquico com um único bispo supervisionando todos os demais que detinham seus ofícios. O contexto torna provável que havia vários “episkopos” numa só igreja, assim como também havia certo número de diáconos.


Rev. Gildásio Reis

Conceituando a Missiologia


A missiologia (do latim missione+logo+ia) é um termo que podemos definir como “a ciência da comunicação transcultural da fé cristã” ou “o campo de estudo que pesquisa, registra e aplica dados das origens bíblicas e da história da expansão do movimento cristão aos princípios e técnicas antropológicas para sua melhor promoção” .

O teólogo Karl Müller (1928), em sua obra Teologia de la Misión, fala sobre o percurso que a missiologia precisou percorrer para ser considerada uma ciência. Ele nos informa quando ela foi pela primeira vez reconhecida como uma disciplina ou ciência teológica:

A missiologia, ou ciência da missão, é uma disciplina teológica que aparece em uma época relativamente recente. O conceito foi cunhado em 1832 pelo historiador eclesiástico J. T. L. Danz, que era professor e ensinava em Jena. Danz descreve pela primeira vez esta disciplina com o nome de “Apostólica”(Apostolik)

Müller continua mostrando que para superar os limites de uma disciplina apenas prática, a missiologia deveria se relacionar com outras disciplinas teológicas. Sendo assim, por volta do ano de 1909, a missiologia foi reconhecida. Müller pontua o seguinte:

A missiologia passou a dedicar-se ao estudo da história, geografia, e estatística da missão, a morfologia e a fenomenologia da mesma e ocupar-se também da investigação e desenvolvimento do método da missão.E desta maneira, como bem via Karl Graul fez a quase um século e meio, “pode sair da penumbra da credibilidade sentimental e elevar-se até a claridade mediana de uma ciência crível”

De maneira muito esclarecedora, Karl Müller conclui esta questão, apontando quatro resultados em se considerar a missiologia como disciplina teológica:

a) La misionología se muestra como disciplina teológica al hacer que la «dimensión» misionera de la fe sea su objeto más importante y el criterio principal de su trabajo: la misión como la causa de Dios, puesta en marcha por Dios mismo y que ha de ser conducida por él a la consumación en el reino escatológico de Dios.

b) La misionología se muestra como disciplina teológica, si, dentro del ámbito total de la teología, se orienta hacia la referencia dimensional a la missio Dei, sobrepasando con mucho los límites de la misión operacional en el sentido tradicional.

c) La misionología se muestra como disciplina teológica, por todo lo que acaba de decirse, cuando tiene conciencia de tener que echar mano de las demás disciplinas teológicas y hace uso de la ayuda que esas disciplinas le prestan.

d) Finalmente, la misionología se muestra como disciplina teológica por el hecho de considerar también como objeto de sus trabajos científicos la faceta operacional de la misión: no como un «hobby» (o afición) al que se pudiera renunciar, sino, por decirlo así, como aquella faceta de la missio Dei que mira hacia la Iglesia y hacia su responsabilidad con respecto al mundo.

Rev. Gildásio Reis

A relação teologia e missões

Embora o termo teologia (do grego θεóς + λóγος, logos) não apareça na Bíblia , temos uma palavra no Novo Testamento que lhe é equivalente, “doutrina” que significa “ensinar”(Rm 6:17;1Tm 6:3-4; Tito 1:2,9, etc.). Muitas são as definições do que se pode entender por teologia. Charles Hodge a denominou de “a ciência dos fatos da divina revelação”, enquanto E.H. Bancroft a chamou de “a ciência de Deus e da relação entre Deus e o universo”.

Podemos dizer que teologia é o conjunto de verdades extraídas dos ensinos bíblicos a respeito de Deus e de Sua obra, e que são apresentadas de modo sistemático, na forma de um corpo de doutrinas.

Hermisten Maia nos oferece a seguinte definição:

 A teologia pode ser definida operacionalmente como o estudo sistemático da revelação especial de Deus registrada nas Escrituras, tendo por finalidade glorificar a Deus por meio do conhecimento da sua Palavra e da obediência à ela.

Se “teologia” é “o estudo sistemático da revelação especial de Deus registrada nas Escrituras”, podemos inferir daí que, teologia de missões é uma reflexão da prática da pregação evangelística (missiologia) à luz da teologia. Sendo assim, o curso “teologia de missões”, deve procurar manter uma aproximação consistente do estudo da missiologia com a Escritura. Por isso ela é chamada de Teologia de Missões.

A missiologia é uma ciência prática. Como tal ela deve estar subordinada à teoria, ou seja, à verdade. “A boa teologia desloca-se da cabeça até o coração e, finalmente, até a mão”. A ação prática da Igreja deve estar subordinada à teoria – à verdade da Palavra. Essa é exatamente a posição que podemos observar no pensamento do teólogo equatoriano René Padilla.

Uma razão é que sem iluminação da Palavra, a ação se transforma em ativismo sem sentido de direção. À teologia compete a importante tarefa de avaliar o que se está fazendo, e de avaliá-lo a luz da Palavra para ver se em efeito está contribuindo aos objetivos do Reino de Deus e sua justiça

Sobre esta relação e dependência da teologia e prática na vida da igreja, Hermisten é da seguinte opinião:

A teologia não termina em conhecimento teórico e abstrato, antes se plenifica no conhecimento prático e existencial de Deus através das Escrituras e da iluminação do Espírito. Conhecer a Deus é obedecer a seus mandamentos. Fazer teologia é tarefa da Igreja; não é um estudo descompromissado feito por transeuntes acadêmicos.

Rev. Gildásio Reis

SER JOVEM NO MUNDO ATUAL, SEM PERDER A IDENTIDADE

“Resolveu Daniel, firmemente, não se contaminar com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar. Dn 1.4,8.

É atribuída ao filósofo empirista John Locke (1632-1704) a seguinte afirmação: “O homem é produto do meio”. De fato não é fácil ser honesto, em pleno Séc. XXI. Se é que tenha sido fácil em alguma época. Não é fácil ser íntegro na escola, correndo o risco de ficar de recuperação, quando os que colam passam direto e ainda se gabam disso. Não é fácil manter a pureza em meio a tanta sensualidade.

A Babilônia, cenário em que lemos a história de Daniel, é símbolo do mundanismo, da sedução, da perversão, do engano, da imoralidade, da idolatria. Símbolo de todo um sistema alienado de Deus (I João 2.14-17). Quando olhamos para a vida de Daniel, que viveu durante os anos de cativeiro na Babilônia (70 anos), encontramos o segredo para o jovem cristão prevalecer num ambiente tão hostil. O capítulo 1 apresenta Daniel (provavelmente ainda um adolescente de 17 anos) e seus três amigos capturados para servirem na corte real. Daniel é levado para ser treinado na cultura e língua dos pagãos (1.4b). Mas Daniel tomou uma firme resolução. Não iria se contaminar com as finas iguarias do rei (1.8).

Nossa UMP decidiu adotar este versículo do livro de Daniel como texto base para o ano de 2010. Diante disso, gostaria de, à luz desta passagem, extrair quatro princípios que devem nortear o andar do jovem cristão numa sociedade pagã, sem que, com isso, venha perder sua identidade como jovem cristão:

1) Discernimento: Qual seria o problema de comer carne e beber vinho? O rei estava honrando os jovens com comida da sua própria mesa – comida primorosa. Um gesto generoso do rei. Contudo, Daniel sabia que por trás daquela mesa real estava uma rendição da fé, uma participação na mesa de ídolos. Aquele alimento não tinha sido preparado de acordo com as leis dietéticas de Moisés (cf. Lv 3,17; 11; Dt 14.21). Na opinião de Daniel, comer daquela mesa iria torná-lo culpado de adoração idólatra e estaria desagradando ao seu Deus. Daniel foi um jovem com discernimento. Soube discernir o certo do errado, o que pode e o que não pode. O que agrada ou não a Deus. Isso é discernimento.

Hoje em dia a juventude se depara com muitas situações e áreas, nas quais, é preciso discernir o certo e o errado. Pode ou não. Como exemplo: o que diz o jovem cristão sobre o sexo antes do casamento, honestidade nos negócios, santificação do corpo como templo do Espírito Santo, etc. Escrevendo a Tito, Paulo diz que “os jovens devem ser em tudo criteriosos” (Tt 2.6).

2) Firmeza: O texto diz que o jovem Daniel “resolveu firmemente não se contaminar”. Aprendemos aqui que para não se render aos apelos da sociedade não cristã, o jovem precisa ter uma atitude forte, ousada, corajosa e firme. Os três amigos de Daniel disseram mais tarde que estavam prontos a morrer, mas não iriam transigir. Quantos jovens na atualidade cedem aos convites das más companhias, à práticas socialmente aceitáveis como bebidas alcoólicas, pornografia, piadas imorais, relacionamentos impuros, etc. O jovem cristão não deve fazer concessões às exigências da sociedade , quando estas contrariam a vontade de Deus. Não pode permitir ser moldado pelos poderes sedutores deste mundo. Para tanto, é preciso firmeza e muita fé para não ceder. Daniel mudou o cardápio da Babilônia e não permitiu que a Babilônia mudasse o seu paladar. Que firmeza!

3) Pagar o preço: Ainda, um terceiro princípio aprendido com Daniel é que viver com fidelidade exige certo sacrifício. Há um preço a ser pago. Com aquela decisão tomada, eles podiam até morrer. Eles estavam arriscando a própria vida. Mas Daniel prefere correr o risco, a violar sua consciência. Prefere a morte ao pecado. Os babilônios haviam tirado-lhe sua família, seu lar, sua cidade natal (Jerusalém) e qualquer outra coisa que poderia lhe dar segurança na vida, mas ele decidiu que sua fé, sua identidade e sua fidelidade, eles não tirariam.

Ser crente hoje não é fácil, como também não foi diferente no tempo de Daniel. Aliás, Daniel e seus amigos chegaram a ser jogados na fornalha acesa, na cova dos leões. Tudo isso por causa da fé que eles professavam. Hoje, em pleno séc. XXI, os desafios são outros. Não obstante, como nos tempos de Daniel, também exige um preço a ser pago. O fato é que cada geração tem seus próprios desafios. Pense em sua realidade e nos riscos e desafios que você enfrenta hoje pelo fato de ser crente e responda: Se Daniel estivesse em seu lugar, qual seria a postura dele?

4) Boas amizades: Um último princípio que Daniel nos ensina é que para viver neste mundo sem perder a identidade, é preciso ter boas amizades. Daniel teve por perto bons amigos, os quais também eram tementes a Deus. Quando ele se viu pressionado pelo mandato do rei, correu para seus companheiros e eles juntos começaram a buscar a Deus em oração.

As amizades são muito importantes na vida do jovem. E a Bíblia dá muitos conselhos sobre esta questão. Por exemplo, o livro de provérbios registra que podemos desfrutar de amizades sinceras, como também devemos ter cuidado com as amizades que podem nos influenciar negativamente. Há amizades que nos enriquecem e amizades que nos empobrecem espiritualmente. Por isso o jovem deve ter muito cuidado com aqueles que se dizem “amigos”. Em Pv 13.20 lemos: “Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos será mau”. Paulo, em I Co 15.33 nos dá uma importante orientação: “Não vos enganeis, as más conversações corrompem os bons costumes”.

Concluindo, gostaria de dizer que, por causa da presença de Satanás, que deseja desviar-nos de Deus e de sua vontade, nunca será fácil manter um testemunho vibrante de piedade. E há ocasiões em que isso é um pouco mais difícil do que normalmente. Uma dessas ocasiões é quando estamos longe dos familiares, da igreja, e dos irmãos, e esta era a situação de Daniel na Babilônia. Mas quando estamos dispostos a permitir que Jesus tenha o primeiro lugar em nossas vidas, ele nos ajudará a manter a piedade em ambientes impiedosos. Mesmo num ambiente e cultura hostil, podemos servir a Deus sem perder nossa identidade como crentes e sem negociar os princípios das Sagradas Escrituras.



Parabéns Jovens da IPO e que Deus abençoe suas vidas,



Rev. Gildásio Reis