terça-feira, 4 de maio de 2010

O Lugar da pologética no Evangelismo Urbano

Rev. Gildásio Reis
A apologética consiste em defender nossa fé perante aqueles que nos pedem razão dela (...). Converter-se ao cristianismo não consiste em deixar de usar o cérebro ou em dizer adeus ao pensamento racional. O objetivo da apologética é tratar dos obstáculos da fé, dando respostas elaboradas e racionais que permitam a nossa audiência ver a coerência da fé cristã

Dentro do contexto que estamos analisando a apologética, podemos afirmar que há pelo menos duas funções para ela:



3.1. Capacitar os cristãos a compartilhar sua fé.

Muitos cristãos não falam de sua fé com os descrentes simplesmente por causa do medo. Eles têm medo de que os não-cristãos possam lhes fazer uma pergunta ou levantem uma objeção que eles não vão saber como responder. E, então, eles escolhem ficar em silêncio e assim escondem sua luz sob o alqueire, desobedecendo a orientação de Cristo (Mt 5.15).



Paul Little nos faz dura, porém verdadeira crítica a nós cristãos, quando negligenciamos esta tarefa de defender nossa fé perante os incrédulos. Ele afirma:
"Com a apologética, podemos perceber a superioridade da cosmovisão cristã, não apenas em questões religiosas, mas em todas as áreas da vida".

O treinamento apologético é um grande impulso ao evangelismo, pois nada inspira mais confiança e coragem do que saber que se tem boas razões para acreditar no que se acredita e boas respostas para as perguntas e objeções comuns que podem ser levantadas. Bom treinamento em apologética é uma das chaves para um evangelismo eficaz e sem medo.



3.2. Demolir as vãs filosofias e limpar o caminho da fé dos possíveis obstáculos.

A advertência do apóstolo Paulo aos crentes de Colossos é muito clara: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”. (Cl 2:8).



Muitos têm uma idéia equivocada do cristianismo. Estão presas a vãs sutilezas e vãs filosofias do mundo (Cl 2.4). Para Paulo, fora de Cristo, não existe nenhuma outra fonte de conhecimento. Paulo mostra que, em Cristo, “todos os tesouros do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). A função da apologética, então, consiste em explicar em que consiste a fé cristã e procurar eliminar os obstáculos ao cristianismo.



A sabedoria genuína; o conhecimento verdadeiro só pode ser achado em Cristo. E para levar uma pessoa a conhecer a Cristo, precisamos remover os obstáculos e desfazer suas vãs filosofias. E para isso, precisamos conhecer as pessoas e sua estrutura de pensamento. Como disse McGrath “Uma das habilidades mais importantes da apologética é saber escutar”

O aspecto pessoal da apologética é vital. A pergunta a ser feita não é: “Que é que faz com que as pessoas não se convertam?”, mas sim, “Que é que faz que este meu amigo não se converte?”. Segundo McGrath:



"A evangelização tem lugar de forma mais eficaz e poderosa cada vez que falamos aos nossos amigos sobre nossa fé e esperança, e intentamos compartilhar com eles o que para nós significa ser cristão".

Por isso precisamos descobrir e respeitar as necessidades das pessoas. Precisamos mostrar a elas que o cristianismo tem resposta para as suas necessidades e ansiedades. Uma boa apologética descansa sobre duas premissas básicas: 1) Temos que saber algo sobre nossos amigos e 2) Precisamos conhecer o cristianismo. Se queremos ser bem sucedidos na evangelização, precisamos investir tempo nestes dois elementos.
“Se permitirmos que as mesmas questões nos derrotem na conversação, vez após vez, estaremos sendo desobedientes. Por nossa própria ignorância, estaremos confirmando os incrédulos em sua descrença".

A Escritura e a Apologética

Rev. Gildásio Reis

O que a Bíblia tem a dizer sobre a apologética?

O cristão deve ter coragem e firmeza para defender o evangelho. Isto porque, cristãos genuínos amam a verdade e refutam o erro. Escrevendo à igreja de Filipos, Paulo disse que os irmãos deviam "lutar juntos pela fé evangélica" (Fp 1.27). Essa fé mencionada aqui por Paulo era o conjunto de verdades que os crentes haviam recebido dos apóstolos e que deviam preservar. A mesma idéia teve Judas, quando escreveu aos seus leitores, exortando-os a batalharem "diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3). De maneira insistente, somos instruídos de que é nossa responsabilidade defender a fé.
 
Ainda escrevendo à Igreja de Filipos, Paulo diz: “Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho” (1:7) e “Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho” (1:16). O termo grego que aparece nestes dois versos para “defesa” é avpologi,an (apologia). Termo este que sugere a atividade de Paulo como líder na igreja, ou seja, a de “defender, desarmar o preconceito e vencer as objeções à mensagem ( cf. 2 Co 7:11 )”

João também nos ensina a necessidade de discernimento: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1 Jo 4:1).

Em I Pedro 3.15, está escrito: “Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. A expressão usada por Pedro “para responder” é avpologi,an (para uma defessa).

John Stott é muito convincente ao afirmar que a pregação evangelística não deve se sustentar em “um apelo emocional e anti-intelectual por "decisões", quando os ouvintes têm apenas uma confusa noção sobre o que é o evangelho. Ele oferece alguns exemplos da importância do uso da apologética na proclamação do evangelho. Dentre eles, a experiência do apóstolo Paulo, e afirma o seguinte:
 
Paulo resumiu o seu próprio ministério evangelístico com as simples palavras "persuadimos aos homens" (2 Co 5.11). Pois bem, a "persuasão" é um exercício intelectual. "Persuadir" é dispor argumentos de forma a prevalecer sobre as pessoas, fazendo-as mudar de idéia com respeito a alguma coisa. E o que Paulo declara fazer é ilustrado por Lucas nas páginas de Atos. Ele nos diz, por exemplo, que por três semanas na sinagoga em Tessalônica Paulo "dissertou entre eles, acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos" e dizendo "este é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio". O resultado, Lucas acrescenta, foi que "alguns deles foram persuadidos". (At 17.2-4). Pois bem, todos os verbos que Lucas emprega aqui, descrevendo o ministério evangelístico de Paulo - dissertar, expor, demonstrar, anunciar e persuadir - são, até certo ponto, verbos "Intelectuais". Indicam que Paulo ensinava um corpo de doutrina e dissertava em direção a uma conclusão. Seu objetivo era convencer para converter.
Ao lermos os Atos dos Apóstolos, fica evidente que era a atitude padrão dos apóstolos argumentar a favor da veracidade da visão Cristã, tanto com Judeus quanto com pagãos. (ex., At 17:2-3, 17; 19:8; 28:23-24). Ao lidar com a audiência Judaica, os apóstolos apelaram para o cumprimento de profecias, os milagres de Jesus, e especialmente a ressurreição como evidência de que ele era o Messias (At 2:22-32). Quando eles confrontaram as audiências gentias que não aceitavam o Antigo Testamento, os apóstolos apelaram para a obra de Deus na natureza como evidência da existência do Criador (At 14:17). Depois apelaram para as testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mostrar especificamente que Deus se revelou em Jesus Cristo (At 17.30,31; 1 Co 15:3-8).