A importância que Paulo confere à liderança do presbítero pode ser imediatamente constatada no fato de que em todas as igrejas, por ele fundadas e sob sua orientação, promovia-se a eleição destes oficiais. Lemos em Atos que, passando ele pelas cidades de Listra e Antioquia, em sua primeira viagem missionária, em cada igreja, promovia “ a eleição de presbíteros” (Atos 14:23). Escrevendo a Tito (1:5) disse: “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi”. Escrevendo à igreja de Éfeso, ele nos informa que ali já havia presbíteros: “De Mileto, mandou a Èfeso chamar os presbíteros da igreja” (Atos 20:17).
Não é de somemos importância, o valor que tinha para a igreja tal ofício. Sendo assim, faz-se necessário olhar para o mesmo e ver seu lugar e valor para a igreja atual. A nossa discussão sobre o tema será abordado sob dois aspectos: sua natureza e sua responsabilidade.
I. UMA DEFINIÇÃO DE TERMOS
Primeiramente, é necessário definirmos três termos que são utilizados nos escritos de Paulo, para descrever este ofício na igreja: Bispo, Presbítero e Pastor.
1. Episcopos. Literalmente, significa “supervisor” (formado de epi, “por cima de”, e skopos “olhar”, “vigiar”). Referindo-se ao líder da Igreja, aparece 5 vezes no Novo Testamento, sendo 3 vezes nos escritos de Paulo ( cf. I Tm 3:2, Tt 1:7, Fp1:1), 1 vez em Lucas e em Pedro (Atos 20:28; I Pe 2:25 ) . Em todas estas cinco ocorrências, refere-se a natureza da tarefa daqueles anciãos (presbíteros), ou seja, a tarefa de supervisionar o rebanho.
2. Pastor (poimene): O termo aparece 18 vezes no Novo Testamento, 17 delas fazendo referência a Jesus como Pastor . É surpreendente verificar que a palavra pastor (poimh.n), pelo menos em sua forma substantivada, não é usada para designar um ofício na igreja. Ela sequer aparece nas Epistolas pastorais. Como substantivo, designando o oficio, ela aparece apenas uma única vez no Novo Testamento em Ef. 4:11 “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores (poimena) e mestres (didaskalos)”. Todas as outras vezes em que ela ocorre no Novo Testamento, ocorre ora fazendo referência a um “pastor” de ovelhas, ora se referindo a Jesus como pastor. (Cf. João 10 ). Já o verbo poimai,nw (poimaino) que aparece 11 vezes no Novo Testamento, sempre faz referência a responsabilidade dos presbíteros que exercem seu ministério pastoralmente.
3. Presbítero (presbuteroi): Aparece três vezes nas epístolas pastorais ( ITm 5:17,19 e Tito 1:5,7). Transliterado do grego, presbiteros significa: “velho”; teroj, grau comparativo, significa: “mais”. Etimologicamente, presbíteros são “os mais velhos, mais maduros”. Sendo assim, a palavra presbítero, tem a ver com a idade e dignidade, exatamente como vemos em Israel . Wallace diz que “O ancião em Israel obtinha inicialmente, sem duvida, sua autoridade e seu status, bem como seu nome, da sua idade e da sua experiência”
II. RELAÇÃO ENTRE OS TERMOS PRESBÍTEROS E BISPOS.
Tendo dado uma definição destes três termos, podemos ser levados a pensar que trata-se de pessoas diferentes, desenvolvendo três ministérios distintos. Mas à luz do pensamento de Paulo, os termos episkopos e presbuteros são empregados um pelo outro, intercambiavelmente .
Tomamos primeiramente o registro que Lucas faz em At 20:17,28 mostrando o pensamento paulino sobre este termos. No verso 17 Lucas descrevendo uma iniciativa do apóstolo diz: “De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros (tou.j presbute,rouj) da igreja”. Aqui o vocábulo utilizado por Lucas é presbítero e no verso 28, ele substitui o termo presbítero por bispo - “atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito vos constituiu bispos para pastoreardes a Igreja de Deus”. É nítida a naturalidade como o uso destes termos se alternam.
Vejamos ainda um outro exemplo. Ao lermos em I Timóteo 3, as qualificações exigidas para se exercer o oficialato, Paulo faz uso do termo bispo: “é necessário portanto que o bispo...”;. Devemos ter em mente, portanto, que o apóstolo está escrevendo a Timóteo que na ocasião estava em Èfeso (cf. I Tm 1:3). Em I Tm 5:17, ainda escrevendo à Igreja de Éfeso, Paulo diz que “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem...” Note como Paulo ao falar da liderança da igreja de Éfeso, alterna o uso dos termos – ora chamando-os de presbíteros, ora de bispos.
Em Tito 1:5-7 também notamos este intercâmbio com os dois termos. No verso 5 ele diz “Por esta causa, te deixei em Creta para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, como lhe prescrevi”. No verso 7, ele preferencialmente, utiliza o termo bispo em lugar de presbítero. – “Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível...” (cf. I Tm 3:1; 4:14; 5:17,19;).
Paulo trabalha alternando os substantivos, sem que com isso, deixe entender que esteja tratando de ofícios distintos. Em outras palavras, os dois termos descrevem a mesma pessoa dentro do mesmo cargo. Podemos ainda observar, que a lista de requisitos para o presbítero em Tito 1:5-9 é semelhante à lista que apresenta as exigências para o bispo conforme lemos em I Timóteo 3:2ss. A conclusão parece óbvia, a lista não poderia ser diferente, pois Paulo está descrevendo um mesmo ofício.
Ainda há outro texto o qual nos ajuda a comprovar que tais termos são sinônimos para Paulo. Escrevendo aos filipenses (Fl 1:1) ele diz: “...a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos, que vivem em Filipos”(grifo nosso). Observe que Paulo usa o vocábulo bispos, mas é de nosso conhecimento, que em Filipos já havia presbíteros, pois durante sua primeira viagem missionária (cf. Atos 14:23), ele promoveu a eleição de presbíteros em cada igreja. Foi exatamente durante esta viagem que o apóstolo organizou a Igreja de Filipos (cf. At 16). Sendo assim, poderíamos perguntar: Se já havia presbíteros na igreja de Filipos, por que Paulo mencionaria os bispos e diáconos, esquecendo-se dos presbíteros? É possível concluir, dizendo que, ele não se esqueceu dos presbíteros, mas sim, que bispos e presbíteros são termos que Paulo usa para descrever o mesmo ofício. Assim, nos parece certo afirmar categóricamente que bispo e presbítero são sinônimos para o apóstolo Paulo.
III. A PLURALIDADE DE PRESBÍTEROS
Um outro aspecto a ser estudado envolvendo este ofício, e à luz dos escritos paulinos, é se o apóstolo defende uma pluralidade de presbíteros ou um único presbítero governando a igreja com autoridade sobre todos os demais.
Augustus H. Strong, teólogo batista, o qual não aceita a pluralidade, defende que não encontramos no Novo Testamento base ou nenhuma exigência para ela. Ele diz :
Em algumas igrejas do Novo Testamento parece ter havido uma pluralidade de presbíteros (At. 20:17; Fp 1:1; Tt 1:5); contudo, não há nenhuma evidência de que o número de presbíteros era uniforme ou que a pluralidade que frequentemente existia se devesse a qualquer outra causa que não seja o tamanho das igrejas que eles cuidavam. O exemplo do Novo Testamento, conquanto permita a multiplicação de pastores assistentes conforme a necessidade, não requer uma pluralidade de presbíteros em todos os casos; nem esta pluralidade de presbíteros, onde existe, se torna autoridade coordenada a uma igreja.
Strong, utilizando-se das passagens de ITm 3:2, 8, 10, 12 e Tt 1:7 argumenta que, ao falar do bispo, Paulo usa o termo no singular e ao falar dos diáconos, usa no lural , querendo com isso, dizer que o Apóstolo ensina um governo congregacional, com um único presbítero ou bispo governando sobre um conjunto, um grupo de presbíteros.
Este argumento de Strong não se sustenta diante de uma exegese do texto paulino. Primeiramente, precisamos considerar o contexto gramatical. A maneira como o apóstolo faz uso do singular era mais do que natural, em razão de ter dito no v.1 “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” ( ITm 3:1), ou “alguém que seja irrepreensível . . .” (Tito 1:6 ). Além disso, não podemos ignorar o fato de que o artigo definido no grego pode ser entendido como uso genérico; ou seja, Paulo está descrevendo qualificações gerais que se aplicam a qualquer exemplo; em outras palavras, o uso do artigo definido aqui é representativo.
Ao comentar I Timóteo 3:2, Gordon D. Fee faz a seguinte observação sobre este uso do singular por Paulo:
O fato de que to.n evpi,skopon (“o bispo”) está no singular aqui, tem levado alguns a argumentar que este ofício representa o monoepiscopado (uma única pessoa como pastor) ao passo que o plural diako,nouj (“diáconos”) serve sob as ordens dele (como a maioria das igrejas protestantes contemporâneas). Contudo, o singular aqui é quase certamente genérico, como “a mulher”, em 2:11,12. A pista segura para esta opinião, além do plural em 5:17, é Tito 1:5 e 7, onde o plural “presbíteros”aparece no v.5 e, depois, passa para o singular genérico nos vv. 6 e 7. Além do mais, o “se alguém”no v.1, que levou o verbo ao singular neste versículo, é sentença condicional, ou generalizadora, não limitadora. Ela aparece em 1 Timóteo 5:8 e 6:3, e em ambos os casos – esp. 6:3 – refere-se a um grupo de mais de uma pessoa.
Uma segunda objeção que precisamos fazer à interpretação de Strong é que, em Éfeso, bem como em Creta, havia uma pluralidade de Presbíteros. Em At. 20:17 lemos:“De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros (tou.j presbute,rouj) da Igreja” e em Tito 1:5, Paulo diz: “Por esta causa, te deixei em Creta, para quem pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros (presbute,rouj) conforme te prescrevi”. Notamos que o substantivos estão no plural e não no singular, indicando com isto, uma pluralidade de presbíteros.
Podemos ainda observar que Strong erra em não considerar que na própria carta a Timóteo (ITm 5:17), o apostolo diz: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros (presbu,teroi) que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”
O pensamento de Strong é também insustentável à luz de At 14:23 - “E promovendo-lhes em cada igreja, a eleição de presbíteros...”. Como já dissemos, Paulo nos informa que durante a sua primeira viagem missionária, ele já promovera a escolha de presbíteros. O texto é enfático,“promovendo-lhes, em cada igreja a eleição de presbíteros”.
Diante destas considerações, somos convencidos, de que a pluralidade e não o episcopado monárquico, é o ensino das Escrituras. A referência às qualidades exigidas para um “bispo”, como por exemplo, em I Timóteo 3, não oferece apoio algum para a teoria de um episcopado monárquico com um único bispo supervisionando todos os demais que detinham seus ofícios. O contexto torna provável que havia vários “episkopos” numa só igreja, assim como também havia certo número de diáconos.
Rev. Gildásio Reis
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