segunda-feira, 26 de abril de 2010

ENTENDENDO O QUE É APOLOGÉTICA.

                                                                                                                                                                                         Rev. Gildásio Reis
A apologética tem sua origem no grego apologia - “defesa”. Trata-se de um ramo da teologia cristã que procura explicar as verdades da fé cristã, de maneira mais racional. De acordo com o Dicionário Houaiss, apologética, é a “defesa argumentativa de que a fé pode ser comprovada pela razão” , ou, conforme McGrath, que entende apologética como “uma apresentação de defesa de suas (da fé cristã) reivindicações de verdade e importância no grande mercado das idéias” . William Craig compreende a apologética como “o ramo da teologia cristã que busca prover fundamentos racionais para as afirmações do cristianismo”.

A apologética, como veremos, tem uma grande importância para a evangelização. No entanto, alguns cristãos desprezam seu valor (da apologética) e justificam dizendo que “ninguém poderá vir a Cristo através de argumentos intelectuais”. Este posicionamento, em essência, revela uma abordagem antiintelectual ao Cristianismo. Esta mesma crítica também foi feita a John Stott. O ponto defendido é que “a pregação do evangelho com argumentação racional estaria usurpando o trabalho do Espírito Santo”. Stott esclarece que tal crítica é improcedente faz referência a J. Gresham Machen, o qual se expressou de modo convincente:

O misterioso trabalho do Espírito Santo tem mesmo que acontecer no novo nascimento. Do contrário, todos os nossos argumentos são completamente inúteis. Mas não podemos concluir que os argumentos sejam desnecessários, pelo simples fato de serem insuficientes. O que o Espírito Santo faz no novo nascimento não é transformar a pessoa num cristão sem dar atenção à evidência, mas, pelo contrário, dissipar a névoa de seus olhos, de forma que possa ver e responder à evidência.

Francis A. Schaeffer, um dos grandes apologistas cristãos, é da mesma opinião de Machen. Para ele não há qualquer contradição em depender do Espírito Santo e fazer uso da razão para comunicar o evangelho. Ele afirma que:


"É importante lembrar, antes de tudo, que não podemos separar a verdadeira apologética do trabalho do Espírito Santo, nem de uma relação viva em oração ao Senhor, por parte do cristão. Precisamos compreender que a batalha, eventualmente, não é somente contra carne e sangue. Contudo, a ênfase bíblica na necessidade de conhecimento anterior à salvação nos influenciará para obter aquele conhecimento necessário para comunicar o evangelho. O cristianismo histórico nunca se separou do conhecimento. Ele insiste que toda verdade é uma só e precisamos viver e ensinar isto, mesmo que o pensamento e a teologia do século vinte o neguem."

A tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar e sustentar um contexto cultural no qual o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes. J. Greshan Machen, em 1913, já advertia sobre o perigo de perdermos a guerra intelectual na tarefa da evangelização. Ele afirmou o seguinte:


"Idéias falsas são o maior obstáculo à aceitação do evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e ainda assim só conseguir ganhar uma alma aqui e ali se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação seja controlado por idéias que impedem que o Cristianismo seja visto como nada mais do que uma ilusão inofensiva".

Como podemos perceber nos argumentos acima, não temos razões de rejeitar o uso da apologética. Primeiramente, trata-se de uma ferramenta de resposta, mas não apenas isso. Conforme Mcgrath, ela tanto trabalha na defensiva apresentando argumentos positivos para as verdades cristãs, bem como, refuta objeções suscitadas contra essas mesmas verdades. Como vamos poder constatar, a apologética, tanto proporciona ferramentas que ajudam os cristãos a defenderem sua fé, como também, edifica e fortalece os cristãos, dando a eles maior segurança naquilo em que crêem.

Entendemos que a guerra não está perdida. Ela ainda está acontecendo. E para não perdermos esta batalha, precisamos nos preparar intelectualmente. No entanto, cabe aqui a ressalva, que por sinal, já foi feita há pouco - que, isto não significa que poderemos racionalmente levar alguém à conversão.

McGrath propõe que a estratégia dos apologistas cristãos é diferente dos demais. Segundo ele, “O cristianismo deve se distinguir por sua relevância para a vida, e não apenas por sua racionalidade intrínseca”.

Corretamente, ele argumenta que a apologética não gera fé, antes, ela prepara o terreno para que a mesma venha germinar. Dito de outra maneira, a “superioridade intelectual” do cristianismo jamais irá criar em uma pessoa o anseio de se relacionar com Deus, pois não existem apenas oposições intelectuais à fé. Sendo assim, argumenta o autor, o apologista deve ser alguém capaz de identificar quais sejam as barreiras à fé (que nem sempre são intelectuais) e se concentrar nelas. Tal postura o autor denomina como “arte”.

Francis A. Schaeffer entendia que em razão do homem moderno estar tomado pelo relativismo, torna imprescindível que as formas de evangelismo também sofram intensas mutações. Uma destas mutações é aliar-se forçosamente a apologética.

Já oferecemos uma definição de evangelismo. Precisamos aqui apenas ressaltar que uma parte da evangelização é explicar o por quê somos cristãos. O que nos chamou a atenção na fé cristã? Porque a nossa vida agora é diferente do que era antes de nos tornarmos cristãos? Sendo assim, já que a apologética é fazer uma defesa da fé, ela torna-se indispensável na prática evangelística.

Antes de prosseguirmos, precisamos fazer uma pequena distinção entre apologética e a evangelização. Enquanto apologética é afirmar a verdade e o atrativo do evangelho, a evangelização é a própria pregação da Palavra. Apologética não deve ser entendido com confrontação, ou ameaça aos ouvintes. A apologética objetiva apenas conhecer os obstáculos à fé e, através de argumentações lógicas, remover estes obstáculos. A evangelização sim exige a confrontação com o pecado e os erros dos ouvintes, e sempre com a exposição do evangelho.

Esta distinção é muito importante. Evita confusão e mudança de foco, para não perdermos de vista a natureza da evangelização, conduzindo apenas a um debate vazio e acadêmico. Mark Dever faz um alerta sobre isso, dizendo que, frequentemente, as pessoas cometem este erro por pensarem que defender a fé respondendo as perguntas e objeções dos céticos é evangelismo.

A apologética pode certamente, e frequentemente, levar ao evangelismo. Mas a menos que Jesus seja apresentado como a única provisão de Deus para o pecado do homem e o arrependimento e a fé sejam apresentados como o único caminho de obter o perdão diante de Deus, o exercício permanece meramente acadêmico e cognitivo.

McGrath usa a seguinte analogia, a qual, penso que esclarece esta distinção:

A evangelização pode ser entendida como um ato de oferecer pão a alguém. A apologética, persuade a este alguém, de que o pão está ao seu alcance e que ele é bom para se comer (minha tradução)
Schaeffer, assim como Mcgrath, faz distinção entre as duas. E para ele a apologética deve ser vista como uma “pré-evangelização”. O significado disso é que a verdade vem antes da conversão. Para alguém tornar-se um cristão, precisa ter conhecimento da verdade. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8.32).

Assim, devemos concordar com Macgrath. A apologética deve ser usada a fim de remover os obstáculos à fé, pois esta não é um salto no escuro. A credulidade ingênua não ajuda a fé verdadeira; na verdade, é sua inimiga. A fé deve estar fundamentada em provas sólidas. Por isso, Schaeffer entende que a apologética cristã é uma pré-evangelização, e ela “tem duas finalidades. A primeira é a defesa. A segunda é comunicar o cristianismo de modo que qualquer geração possa entendê-lo”

Rev. Gildásio Reis

Nenhum comentário:

Postar um comentário