segunda-feira, 26 de outubro de 2009

VENCENDO O PAVOR DA MORTE



Razões pelas quais o cristão não deve temer a morte
II Coríntios 5:1-10

Rev. Gildásio Jesus Barbosa dos Reis (Th.M)

MORTE! Esta palavra causa pânico e pavor em muitas pessoas, pois a idéia de ter que deixar este corpo ainda está em desarmonia com o espírito do homem. Ela é sempre pintada com aspectos horripilantes e amedrontadores, mas nem sempre é assim. No ensino de Jesus, a partida desta vida significa a entrada no céu, a presença e comunhão com Ele.

O apóstolo Paulo, em 2 Co. 5:1-10, apresenta pelo menos quatro razões pelas quais os cristãos não devem temer a morte. Obviamente que a morte não deve ser entendida por nós como prazer ou como uma situação que desperte desejo, mas, que não devemos tê-la como derrota, antes, como uma vitória gloriosa. Vejamos, portanto, estas razões:

1ª RAZÃO: A morte da início a uma morada eterna nos céus e encerra a morada provisória na Terra (VS. 1 E 2).

O apóstolo Paulo usa aqui dois termos que se contrastam. Tabernáculo (tenda) e Edifício. Enquanto o primeiro é usado para descrever uma habitação provisória e temporária, ou seja, hoje ela está aqui e amanhã pode não estar, o segundo é usado para descrever uma habitação permanente, com uma estrutura sólida que não é removível.

Paulo está ciente de que esta tenda (nosso corpo) pode ser facilmente desmanchada, mas, diz ele, que se isso vier a acontecer, temos da parte de Deus em Edifício, uma casa eterna nos céus.

Para o cristão, a morte é a mudança de uma tenda para uma mansão. Na morte, trocamos este casebre que se esmigalha (14:16), que é frágil, para uma casa feita não por mãos humanas, mas eterna nos céus.

O cristão não deve temer a morte porque sabe que um dia, ao deixar esta tenda, vai receber um edifício celestial (corpo ressureto) e eterno, por isso Paulo afirma “...assim fixamos os olhos, não naquilo que se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.” (2 Co 4:18).

A Bíblia diz que somos estrangeiros e peregrinos em Terra estranha. Este mundo não é nosso Lar; nossa Pátria está no céu (Fp 3:20). Quando um cristão morre, entra na presença de Cristo. Ele vai para o céu passar a eternidade com Deus.

2ª RAZÃO: A morte coloca fim a todos os nossos sofrimentos.

No contexto imediato que antecede a esta passagem, Paulo vinha falando de “um corpo que se deteriora”, de “uma leve e momentânea tribulação”(2 Co 4:16,17). Aqui em 5:4 ele diz que “neste tabernáculo gememos e nos angustiamos”.

Para muitas pessoas, a dor vem, os problemas surgem e tiram o sono delas. A doença bate à porta, sem haver sido convidada, agindo como intrusa. A angústia vive rasgando o coração, machucando e destroçando nossas esperanças. Quantas pessoas com os problemas da alma, depressão, vazio, problemas familiares e tantos outros ...

Enquanto aqui, nessa tenda frágil, estamos sujeitos à doenças, aos perigos e dores; na morte adquirimos uma mansão que jamais ruirá. João diz “Então ouvi uma voz do céu dizendo: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas fadigas ... “ (Ap. 14:13).

Graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Jesus Cristo (1 Co 15:55-57).

Neste novo céu, “Deus enxugará todas as nossas lágrimas; já não haverá luto, nem dor, nem pranto, porque as primeiras coisas já passaram”. (Ap. 21:4).

O cristão não precisa ter pavor da morte, pois o céu significa que todas as nossas lágrimas deixarão de existir. O céu é um lugar de descanso, diz a Bíblia.

3ª RAZÃO: A morte significa o nosso resgate como propriedade de Deus (V.5)

Paulo afirma aqui no v.5 que o Espírito Santo é o penhor, ou sejam a garantia de Deus, com que Ele se compromete a vir e buscar o seu povo com segurança à herança final.

A palavra “penhor” também aparece em Efésios 1:14, quando também se referindo ao Espírito, diz que ele “é o penhor da nossa herança até o resgate da Sua propriedade ...”

Este termo (penhor) era usado nas transações comerciais antigas e significava “primeira prestação, depósito”. Paulo diz que o Espírito Santo possui o significado de “penhor”, exatamente porque Ele constitui a primeira parte do pagamento do total que será recebido no futuro. Penhor significa dinheiro pago em compras, como garantia de que o total da conta será pago subseqüentemente.

Portanto, diz Paulo que o Espírito Santo é a garantia de que Jesus voltará para resgatar a propriedade que é dele (1 Pe 2:9).
O próprio Senhor Jesus, em João 14:2 e 3 declara: “Na casa de meu Pai há muitas moradas ...e quando eu for e vos preparar um lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” .

O céu é um lugar e tão logo esteja ele preparado, o seu nome será chamado.’’

Mas um fato: “O campo de batalha estava juncado de cadáveres. O cirurgião já fizera tudo quanto estava ao seu alcance, e agora se sentara por alguns momentos, para descansar. De súbito, alguém disse: “Estou aqui!”.

O cirurgião levantou-se de um salto e correu para o soldado, ajoelhando-se ao lado dele e indagou: “Que posso fazer por você, filho?”.

O soldado abriu os olhos, surpreso e respondeu: “Nada. É que estavam chamando os nomes dos que estão registrados no céu. E acabaram de chamar também o meu nome; então, eu respondi!”

Querido leitor: Está o seu nome registrado no Livro da Vida do Cordeiro?

4ª RAZÃO: o céu significa premiação do que o crente fez em vida (VS. 9:10)

Precisamos deixar bem claro que não se trata de uma salvação por obras. Em Ef. 2:8-9, Paulo deixa bem claro que nenhum ser humano será justificado diante de Deus com base em suas ações.

O que o apóstolo tem em mente quando diz que “cada um receberá segundo o bem ou mal que fez por meio do corpo” é que Deus recompensará aos cristãos que agiram com fidelidade, enquanto os infiéis sofrerão a perda destas recompensas, mas serão salvos, todavia como pelo fogo. (1 Co 3:14,15).

Não sabemos exatamente o que são galardões, porém, sabemos que eles existem, pois Jesus os prometeu aos seus discípulos (Mc. 9:4 e Lc. 6:35).

A palavra grega que Paulo usa aqui para “tribunal” significa “trono para concessão de prêmios”. Há um prêmio que vamos receber quando comparecermos diante de Jesus, e embora não nos sendo revelado o que será, com certeza deve ser algo maravilhoso e surpreendente. Morrer em Cristo é lucro – Fp. 1:21.

CONCLUSÃO Quando Neil Armistrong, em 1969, estava para ir à Lua, passou antes alguns meses treinando, preparando-se, na expectativa de pisar em solo lunar.

Meu amigo, hoje é seu dia , de começar a se preparar para poder pisar, não na Luz, mas no céu. Lembre-se que você só pode ter o céu como uma garantia, se ele lhe for preparado e garantido desde aqui.

Obviamente que não desejamos morrer, mas a morte, sendo inevitável, exige que você esteja preparado para enfrentá-la. Jesus se apresenta hoje a você como o único caminho possível para te conduzir ao céu. Você não precisa temer a morte. Venha hoje mesmo a Jesus e adquira a certeza de pisar no céu, após a sua morte.



Rev. Gildásio Jesus Barbosa Reis
Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Conceito de Hermenêutica em René Padilla









Um dos temas que pude conversar com Padilla foi sobre sua hermenêutica. Alguns pontos precisavam ser melhor esclarecidos, até mesmo em razão do forte componente social presente em seus textos.

O termo “hermenêutica” é uma transliteração do verbo grego "hermēneuein" e significa "esclarecer", "anunciar", "interpretar" ou ainda, "traduzir". Aparece em Lucas 24:25-28, onde é traduzido para o português por “explicar”. Podemos dizer que a hermenêutica nos ensina os métodos ou princípios para tornar algo compreensível (KAISER & SILVA, 2002, pp. 13-15).

Nossa preocupação aqui é com a chamada hermenêutica bíblica e sua relação com o tema da Missão Integral. Com a questão: “De que vale as Escrituras serem normativas se não respondem as perguntas que surgem em nossa situação contemporânea?” (1984, p. 13), Padilla quer mostrar que uma hermenêutica para ser fiel à Bíblia e também relevante para nossos dias, precisa ser contextual. Em seu artigo “Hacia una hermenêutica contextual”, propõe:
Uma hermenêutica que considere seriamente a situação e que faça possível que a mensagem bíblica registrada nos textos antigos tome contato com a situação dos seus leitores e ouvintes modernos, e ao mesmo tempo se mantenha fiel ao seu propósito original (1984, p.1)

Neste artigo, o autor descreve três diferentes maneiras de se aproximar da Escritura: intuitivo, científico e contextual.

2.1.6.1. O modelo intuitivo: Segundo Padilla, neste modelo, o leitor se aproxima da Escritura colocando ênfase na aplicação da mensagem. Nesta forma, na maioria das vezes o leitor não tem qualquer preocupação com a exegese, mas tão somente em como a mensagem extraída da simples leitura tem aplicação à realidade experimentada por ele naquele momento.

2.1.6.2. O modelo científico: Trata-se de uma abordagem em que o leitor se aproxima do texto com o uso de ferramentas exegéticas e sempre preso às tecnicidades. Trata-se de uma tarefa que freqüentemente é realizada por uma pessoa cujo treinamento recebido a ajudou a conhecer bem as línguas originais e as circunstâncias históricas e culturais dos textos no seu âmbito original. Este modelo, históricamente, tem sido conhecido como “método histórico-gramatical” .

Padilla vê certa limitação no método histórico-gramatical em que, segundo ele, esta abordagem crítica não conseguiu propiciar uma aproximação ao texto que fosse fiel ao seu propósito, ou seja, comunicar-se com o leitor comum. Trata-se de um método que, não obstante, ter seu valor, não tem sido muito útil em ajudar o leitor a transpor o abismo existente entre o autor original e o leitor moderno (1984, p.3). Ao destacar o valor do método histórico-gramatical Padilla entende que o valor deste modelo está em que considera a natureza histórica da revelação bíblica, mas falha por aumentar o abismo entre a Bíblia e os leitores contemporâneos. O método científico pressupõe que a tarefa do intérprete se limita a definir a mensagem original do texto, deixando de lado a aplicação da mensagem. Sua opinião sobre a tarefa do intérprete é expressa, com muita coerência e persuasão, nos seguintes termos:

A tarefa da hermenêutica não se limita a definir a mensagem original do texto. Além do mais, o intérprete não pode supor que o único contexto histórico concreto que tem que levar em conta é o contexto histórico relacionado ao texto, como se o mesmo fosse um ser ahistórico. A hermenêutica tem a ver com a transposição da mensagem bíblica do contexto histórico original ao contexto histórico do intérprete moderno, de modo que o texto escrito no passado tenha impacto no presente. (1984, p. 3)

2.1.6.3. O modelo contextual: Tendo destacado as limitações dos dois métodos anteriores, Padilla vê no método contextual uma abordagem que procura combinar o que tem de positivo nos dois modelos anteriores e desfaz o abismo existente entre o passado e o presente. Procura falar ao leitor contemporâneo sem perder o significado original. Para Padilla, a hermenêutica não deve se preocupar em apenas encontrar o significado original do texto e desconsiderando o leitor como se este fosse ahistórico (1984, p.3). Ao contrário, a hermenêutica, deve cumprir a função de, além de descobrir o sentido original, deve transportar a mensagem para o contexto do leitor moderno.

Por hermenêutica contextual, Padilla entende:

O contexto do leitor contemporâneo tem muito em comum com o do contexto original da mensagem bíblica e ele pode, consequentemente, apropriar-se dessa mensagem hoje e que esta apenas pode ser entendida corretamente a luz de seu contexto original. Tanto o contexto do texto antigo como o contexto do leitor moderno recebem o peso que lhes corresponde. O objetivo é que o horizonte do texto da situação histórica contemporânea venha se unir com o horizonte do texto, de maneira tal que a mensagem proclamada na situação contemporânea seja um equivalente dinâmico da mensagem proclamada no contexto original (1984, p. 4, tradução nossa)

Para que esta tarefa hermenêutica possa se realizar de maneira eficiente, é preciso que o texto e o intérprete se condicionem mutuamente (GADAMER, 997. p. 455) e deve ser tomado em consideração quatro elementos dentro do circulo hermenêutico: 1) A situação histórica do intérprete 2) A cosmovisão do intérprete 3) As Escrituras Sagradas e 4) A teologia.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um diálogo com C. René Padilla














Tive o privilégio de conhecer pessoalmente C. René Padilla. Nascido no Equador, em 1932, Padilla tem se constituído num dos teólogos mais influentes na igreja evangélica no mundo hispano-americano, quando o assunto é o relacionamento da igreja e a sociedade. Possui vários livros publicados e muitos artigos em diferentes idiomas e revistas. O tema “missão integral” tem uma grande importância em seus escritos, dando assim, uma contribuição significativa no desenvolvimento de uma teologia de missão que reconhece o conflito social.

Como preletor, Padilla tem participado em diversos congressos e conferências regionais e internacionais e, sempre, de maneira muito contundente, tem desafiado o envolvimento da igreja com o mundo.

Entrevista com René Padilla












"Evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, as boas-novas da salvação. Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa dinâmica, encarnada primeiro na vida e ação salvifica de Jesus Cristo. Portanto, ela não pode ser reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito Santo a salvação que foi revelada em Jesus Cristo" C. René Padilla

sábado, 8 de agosto de 2009

OBSTÁCULOS PARA O CRESCIMENTO DE IGREJAS URBANAS (Parte II)


6. Isolamento: Uma falsa idéia se opõe a uma evangelização ativa: “não pertencemos ao mundo devemos, simplesmente, nos isolar”. Somos a geração dos condomínios fechados, do shopping center, das grades de segurança, do espaço privado distante e protegido do espaço público. Reagimos, então, da mesma maneira, nos isolando em nossas casamatas (abrigos subterrâneos usados principalmente nas guerras) e criamos um novo conceito de “mosteiro social gospel” com uma placa na entrada: “proibida a entrada de estranhos”.

Não devemos amar ao mundo, é certo, disse o apóstolo João, mas, também somos o sal da terra. Imaginemos se podemos temperar um feijão colocando o saleiro em frente à panela. Devemos por o sal no feijão e suas propriedades suscitarão o efeito desejado. Podemos criar espaços com certas peculiaridades, mas não nos escondermos em guetos evangélicos.

7. Separação: Uma outra barreira sutil e perigosa é a de nos separarmos das pessoas “de lá de fora” e restringir nosso círculo social aos “irmãos”. A senha poderia ser (e às vezes é), “a paz do Senhor” em caso de resposta satisfatória, então é bem vindo ao nosso meio, de outra forma, “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Coríntios 15.33 – interpretado fora do contexto). Olhemos para aquele que foi acusado de ser amigo de publicanos e pecadores (Lucas 7.34), que tocou em leprosos, que perdoou prostitutas, que se aproximou dos excluídos.

Já tentou conversar com alguém que não te olha nos olhos? Que estranha sensação. Como podemos pregar o evangelho que tem características tão evidentes de amor, misericórdia, perdão, reconciliação, adoção, aceitação? Seria muito difícil uma família adotar uma criança órfã sem permiti-la entrar em sua casa. Nós fomos adotados e recebidos na presença do Pai, que não faz acepção de pessoas (por isso nos aceitou), como poderemos testemunhar disto praticando o oposto da mensagem?

8. Paganismo: O paganismo está de volta á essa geração pós-moderna. As seitas e religiões espiritualistas ganham novos adeptos e seus conceitos não são questionados se verdadeiros ou sensatos, basta que faça a pessoa se sentir espiritual e se lhe é sensata e moral. Interessante notar aqueles que chamam cristãos de fanáticos e incultos, e no ápice de sua própria arrogância veneram e acreditam em superstições, pirâmides, objetos, fetiches, gnomos e duendes. São, na verdade, pessoas carentes de uma espiritualidade verdadeira e de um amor profundo, coisas que só encontrarão no Evangelho que a nós foi confiada a proclamação.

9. A insegurança urbana: Como já vimos, a violência tem aumentado nas cidades. Estatísticas revelam que em São Paulo no ano de 2001, os sequestros envolvendo pessoas de qualquer camada social aumentaram 600%. Assaltos nas ruas, arrombamento de residências e tráfico de drogas têm levado as pessoas a se trancarem em suas casas e duvidarem de todos.

Pelo poder da Palavra e do Espírito Santo, as pessoas são convertidas e integradas nas congregações. Porém, muitas vezes terão dificuldades para participarem de programações à noite, por falta de segurança.

10.Ativismo: O ativismo é outra barreira sutil e perigosa. Nos envolvemos em tantas atividades na igreja e ocupamos de maneira tal nosso tempo, que não nos sobra momentos de sociabilidade (muito importante no evangelismo pessoal). Falta-nos tempo para a família, parentes, vizinhos, etc. Algumas vezes, fazemos disso uma desculpa para “fugir” de determinadas atribuições. Mas, em meio à tantas “atividades inadiáveis”, somos exortados a buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça (6.33).

11. Medo de testemunhar: Este medo pode se manifestar, por causa de algumas destas razões:

a) Temor de ser rejeitado - ao falar de Cristo, você se expõe, define sua posição, mostra em que valores você crê. Obviamente, a possibilidade de rejeição existe, e é muito maior do que a possibilidade de ser respeitado em suas convicções cristãs.

b) Temor de ser um fracasso - às vezes, não temos vergonha de testemunhar abertamente, mas tememos receber um "NÃO", ao tentarmos evangelizar alguém. Ou então, fracassarmos por não comunicarmos com clareza o plano da salvação.

c) Temor de se contaminar com os incrédulos - muitas pessoas, quando se converteram, foram erradamente instruídas a não cultivarem amizades com incrédulos. O desejo de santificação é muito positivo, mas algumas pessoas tem partido para radicalismos e exageros.

O crente ser sal e luz, dentro da comunidade doente (Mt 5:13-16). Devemos ter muito cuidado com o conceito de sermos separados do mundo (Jo. 17:11, 14,15). O crente deve conhecer os problemas do seu tempo, para manter conversas inteligentes. Saiba dialogar sobre outros assuntos, além da Bíblia. Paulo, em Ef. 4:17 diz: "não andeis como andam os gentios". Mesmo andando entre os incrédulos, não devemos viver como eles, mas podemos viver entre eles.

12. Teologia distorcida. Existem pelo menos quatro posições teológicas que definem a maneira de ação da igreja na sociedade, sendo que, a quarta posição é aquela que deve ser adotada por nós.

É natural que o novo convertido rejeite muito do que se associa ao seu passado. Ele se retrai do seu ambiente social, abandonando todas as ligações e relacionamentos anteriores. O momento de afastamento e fechamento da cultura anterior é natural, visto que a experiência de ser uma nova criatura em Cristo freqüentemente causa uma grande mudança e conflito. Este momento inicial da vida cristã deve ser encarado como necessário para a maturidade do novo crente, mas o retorno à identificação com a cultura secular deve acontecer, à medida que sua maturidade aumenta. Analise a seguir quatro reações quanto a cultura, suas causas e conseqüências:

1) Rejeição: Mentalidade de Gueto. Um tipo de isolacionismo cristão.
Causas: Medo da secularização e contaminação com o mundo.
Conseqüências: Barreira a evangelização. As pontes não são construídas.

2) Imersão: Flexibilidade que permite uma identificação radical com a cultura humana.
Causas: Necessidade forte de identificação com a cultura secular.
Conseqüências: Tornam-se essencialmente indistinguíveis do mundo. O sal perde o sabor, tem receptores, mas não tem Mensagem.

3) Adaptação dividida: Mistura rejeição e imersão. Seria uma espécie de esquizofrenia espiritual.
Causa: Tem necessidade de estar a vontade nos dois mundos.
Conseqüências: Fica em cima do muro, vida dupla.

4) Participação crítica (nossa proposta): Sabe que Deus o tem envolvido numa missão redentora com implicações culturais.
Causa: Não acredita que o novo nascimento deva "desculturalizar" um novo cristão.
Conseqüência: Possivelmente terá problemas com a colisão entre as culturas cristã e não-cristã. Vive sob a tensão constante entre a fé cristã e a cultura humana.

13. Não saber como comunicar o evangelho: Muitas pessoas nunca prepararam seu testemunho escrito. Outras pessoas, nunca estudaram nenhum plano bíblico para evangelização. Pode ocorrer também a falta de capacidade, de como iniciar uma conversa, que viabilize a pregação do Evangelho.
14. Falta de confiança: Outra barreira é a falta de confiança. De certa forma, ela tem um aspecto positivo, pois nos ensina a humildade e a dependência de Deus. Outro aspecto, porém, precisa ser retirado de nossos pensamentos. Tal obra não é resultante de mero esforço humano, conseqüentemente, Aquele que nos comissionou, também nos capacitará.

O apóstolo Paulo reconheceu-se fraco diante de tal missão. Escrevendo aos colossenses diz: Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer. Cl. 4:3,4

Se esta oração partiu dos lábios deste intrépido evangelista, não necessitaríamos também orar de maneira semelhante? Conhecer nossos temores e fraquezas é o ponto de partida para todo crescimento, porque esse conhecimento nos leva a orar por nós mesmos e requer de nós reconhecer, perante os outros, que não somos de maneira alguma adequados para as tarefas para as quais Deus nos chamou.

A oração humilde tem que ser nosso ponto de partida. Deus é compreensivo e gracioso e certamente suprirá nossas limitações, nos dispondo a ajuda necessária para “dissipar nosso medo e nos dar ousadia de coração e palavra”.

Quando vos levarem às sinagogas e perante os governadores e as autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis, nem quanto às coisas que tiverdes de falar. Porque o Espírito vos ensinará, naquela mesma hora, as cousas que deveis dizer. (Lucas 12.11,12)

15. Modelos Evangelísticos Defeituosos: Embora muitas das práticas evangelisticas funcionem, em alguns casos elas de fato atrapalham o impacto total de uma dada igreja em uma comunidade. Vejam alguns desses modelos defeituosos :

1) O Método da Pescaria. Para muitos, evangelização é o que o pastor faz no domingo, jogando uma rede por cima do púlpito, esperando que alguns “peixes” mordam a isca. Neste caso, a função do “leigo” é de apenas conduzir alguns “peixes” para que fiquem ao alcance do “grande pescador”.

2) O Método da Emboscada. Aqui, o não-cristão é convidado a um acontecimento onde um orador de alto potencial, convidado exclusivamente para esta situação, descarrega todas as suas armas. Frequentemente o “convidado” não tem nenhum idéia da função ou propósito do convite e sente-se numa armadilha e envergonhado.

3) O Método Expedição de Caça. Às vezes, o único contato dos cristãos com a evangelização é através da participação em um mutirão mensal numa “expedição de caça” em território inimigo. Muitas dessas expedições de evangelização são válidas e Deus as abençoa. Muitas, porém, não o são, e representam uma tática desequilibrada e artificial.

sábado, 1 de agosto de 2009

sexta-feira, 31 de julho de 2009

OBSTÁCULOS PARA O CRESCIMENTO DE IGREJAS URBANAS (Parte I)


Rev. Gildásio Reis

Nós concordamos que a evangelização é um imperativo de Cristo para a sua igreja, contudo, não são poucas às vezes que nos sentimos impotentes, desanimados e vencidos diante de tamanha responsabilidade. De fato, mesmo cônscios de nosso dever, da assistência divina e dos frutos, ainda assim, não deixamos de reconhecer as barreiras que se levantam e nos intimidam ou amedrontam quando pensamos em evangelizar.

Precisamos reconhecer barreiras reais e contrapô-las com os recursos dispostos por Deus ao nosso alcance. Se muitas forem as barreiras, suficiente e superior será o auxílio divino para transpô-las, nos concedendo vitórias e nos fazendo efetivos instrumentos de proclamação das Boas Novas da Salvação em Jesus Cristo.

1. O Diabo. Satanás, com seus anjos maus, procura impedir o crescimento da igreja em qualquer lugar. John T. Mueller exemplifica as artimanhas destes inimigos da igreja de Cristo:

a) continuamente procuram destruí-la por investidas em geral (Mt 16.18);
b) tentam impedir que os ouvintes recebam a Palavra de Deus (Lc 8.12);
c) disseminam doutrina errônea (Mt 13.35; 1 Tm 4. 1s); e
d) incitam perseguições ao reino de Cristo (Ap 12.7). No intuito de arruinar a igreja, o diabo causa transtornos também ao estado político (!Cr 21.1; 1 Rs 22.21-22), e ao estado doméstico (1 Tm 4.1-3; 1 Co 7.5; Jó 1.11-19).

2. A Relativização de absolutos: Vivemos dias em que os absolutos são descartados. A verdade tornou-se subjetiva e pessoal, cada um tem sua própria verdade. A liberdade individual e a felicidade pessoal são o alvo buscado e a justificativa de qualquer meio para se alcançar este fim. A nossa cultura perdeu a perspectiva de que existe uma lei moral transcendental que se aplica a todos e que rege o próprio equilíbrio das partes. Diz o insensato no seu coração: não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. (Salmo 14.1)

O Cristianismo é a única história que faz o nosso mundo ter sentido, que age como guia moral, que nos enche com uma esperança confiante dos nossos futuros individuais e o futuro da nossa raça e o deste mundo”, entretanto, a História Cristã perdeu seu significado para o homem moderno.

Entrementes, a relativização de absolutos, ou seja, você decide o que é verdadeiro segundo suas próprias concepções, tem rodeado e até mesmo invadido a igreja. Muitas das nossas convicções e fundamentos sobre os quais lançávamos princípios de vida estão abalados e sob suspeição. As incertezas sobre o teor da mensagem do Evangelho nos fazem recuar. Será que de fato cremos numa verdade? Ela poderá mudar derrubar os muros da incredulidade? Já não nos sentimos tão seguros quanto ao conteúdo de nossa pregação. Como combater a incerteza com incertezas?

“Devemos ter certeza de que nossa fé é de fato a verdade”. Para tanto, o conhecimento e estudo da Palavra de Deus é a fonte que nos prepara para que possamos estar “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. (1 Pedro 3.15b), assim, “...procurai, com diligência, cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição...” (2 Pedro 1.10a).

3. Ausência de credibilidade da Igreja: Boa parte da população está decepcionada com erros diversos em igrejas como a exploração financeira, escândalos de líderes religiosos, o legalismo de certas igrejas que impõem aos seus adeptos leis humanas muito rígidas, tirando-lhes a alegria de viver.: Outra barreira que enfrentamos na evangelização urbana é o discurso da incoerência. A igreja tem desassociado a pregação do testemunho. A ética cristã tem se tornado extremamente maleável, adequando-se às circunstâncias. Os escândalos estão nos deixam constrangidos – porém, não envergonhados ou arrependidos – a nós já não pertence mais o “corar de vergonha” (Daniel 9.7b)

O evangelho está desacreditado porque perdemos o crédito de nosso comportamento perante a sociedade. É certo que não somos perfeitos e ao olharmos para o passado, veremos manchas na História que até hoje são evocadas e simplesmente nos enchemos de desculpas. Devemos assumir os erros que se registraram nos anais da história, atitudes humanas desprovidas de aprovação divina.

Mas, ao mesmo tempo em que devemos assumir nossos erros passados, devemos, também, tomar atitudes no presente para coroar o futuro, viver como luz do mundo e sal da terra, a fim de que os homens vejam nossas boas obras e glorifiquem a Deus (Mateus 5.13-16).

4. A perda da linguagem comum: A comunicação é uma importante conexão entre as pessoas e para que ela se efetive o transmissor da mensagem deve se fazer entender pelo seu receptor, ou seja, minhas palavras devem estar adequadas à linguagem do ouvinte. Como costumamos dizer: “agora, estamos falando a mesma língua” - referência ao fato de terem se entendido. Isto, porém, tem se perdido nos dias atuais. “Mais e mais pessoas são biblicamente analfabetas” – incluindo o meio evangélico. Devemos ter a sensibilidade para fazermo-nos entender na pregação, na proclamação de uma mensagem universal que é “para todos as nações, tribos, povos e línguas” em qualquer tempo ou lugar.

Devemos nos questionar sobre tais barreiras, reconhece-las tão somente não é suficiente, é preciso preparar-se para enfrenta-las, e temos recursos para isto, como afirma o apóstolo Paulo: “porque as armas de nossa milícia não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando nós, sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. (2 Coríntios 10.4,5). Sendo, pois, praticantes da Palavra e não somente ouvintes (Tiago 1.22) o nosso testemunho falará mais alto que nossas palavras e esta é uma linguagem que todos compreendem, vida coerente.

5. Reação de Condenação: Quando nos sentimos acuados reagimos condenando a todos. A parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.9-14) ilustra o cuidado que devemos ter em relação a julgarmo-nos melhores do que outros. Se do “lado de fora” sentimos o cheirinho de enxofre nos “pecadores” e agradecemos a Deus por não sermos como eles, um perigoso sinal nos alerta contra a vaidade e arrogância espirituais. Não devemos julgar nossos inimigos, antes, amá-los. Se fosse possível tirar uma fotografia da realidade espiritual da alma humana e guardássemos a nossa, antes da conversão, veríamos que somos tal qual aqueles que desprezamos ou condenamos.

É neste tipo de arrogância que criamos uma subcultutra cristã (mera presunção) que finalmente vai mudar as coisas, pensamos nós. Nos propomos a preencher os espaços políticos, culturais, sociais para subjugar o “ímpio”, mas para isso vale tudo que estiver ao nosso alcance, seja ético ou não, seja lícito ou não, seja honesto ou verdadeiro ou não. Nos tornamos maiores tiranos do que aqueles que foram “demonizados” por nós.

Devemos, como cristãos, exercer nossa cidadania e contribuir ativa e conscientemente nossos direitos e deveres como cidadãos. Mas, também como Cristãos, devemos ter a percepção de que pertencemos uma “nacionalidade” que nos exige que vivamos segundo suas prerrogativas, como cidadãos do céu e neste exercício de cidadania a palavra amor e misericórdia estão entre os primeiros deveres.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

JOÃO CALVINO: Uma perspectiva pastoral


“Calvino é pastor zeloso e incansável no seu esforço em favor de suas muitas ovelhas, sofridas e angustiadas por males de toda sorte” Wilson Castro Ferreira

Por ocasião das comemorações dos 500 anos de aniversário de João Calvino, gostaria de refletir um pouco sobre um importante aspecto do ministério deste grande reformador. Muitos membros em nossas igrejas e principalmente nós pastores, estamos mais acostumados a pensar na figura do “Grande Reformador” como um Teólogo, do que como um pastor de almas ( embora estas duas coisas não sejam excludentes ). É indiscutível a capacidade de João Calvino como estudioso, teólogo, escritor e expositor sério da Escritura; mas há um lado de Calvino muitas vezes esquecido, o qual precisamos resgatar – seu lado pastor. E penso que olhar para a figura de Calvino nessa perspectiva pastoral, pode em muito nos ajudar hoje em nossa caminha­da como pastores.

Gostaria, portanto, mesmo que de maneira condensada, olhar para Calvino nesta perspectiva, e refletir como ele desenvolveu seu pastorado nas seguintes áreas: Na pregação, na visitação e no aconselhamento. Ninguém tem dúvida, de que estas três áreas são vitais no ministério pastoral.

1) Calvino como pregador.

A pregação das Escrituras na sua totalidade, constituía o alicerce do seu trabalho pastoral. Diz ele que “A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores terão de extrair dela tudo o que eles expõem diante do rebanho”[1] Sua convicção é de que pela exposição da Palavra de Deus as pessoas são conduzidas à liberdade e à segurança da fé salvadora, e a verdadeira pregação, tem o objetivo de abrir a porta do reino ao ouvinte[2]. Pela pregação, a plenitude da graça de Deus alcança o coração das almas carentes.

Em suas pregações, comentários e cartas pessoais dirigidas a amigos[3], Calvino ad­verte os fiéis com respeito aos perigos da vida cristã, sobretudo em contato com a oposição de um mundo hostil aos valores do reino de Deus. Como pastor, Calvino também critica severamente seus oponentes teológicos e freqüentemente afirmava que “o verdadeiro pastor tem duas vozes: uma para chamar as ovelhas e outra para espantar os lobos devoradores”[4].

É óbvio que, se entendemos que a pregação da Palavra é a comunicação da graça de Deus ao coração de nossos ouvintes, nós pastores precisamos ser mais zelosos na preparação e na entrega de nossos sermões. Isto porque, não pregamos para mostrar nosso conhecimento bíblico ou capacidades de oratória, mas para que vidas sejam edificadas e transformadas. Por isto, o Pastor Calvino exorta-nos sobre o grande privilégio e responsabilidade na exposição da Palavra, considerando que “a infidelidade ou negligência de um pastor é fatal à igreja”.[5]

Seguir o exemplo de Calvino na pregação, é pregar com o propósito de produzir pessoas que reflitam a medida de maturidade de que falou o escritor de Hebreus: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” Hb 5.14

Infelizmente, a pregação em nossos dias, parece ter esquecido estas verdades. Algumas pregações hodiernas contêm mais entretenimento do que ensino. Na verdade, muitos pregadores consideram o ensino doutrinário (pregação expositiva) como algo indesejável e sem utilidade prática, preferindo um sermão repleto de histórias engraçadas, revelando muito pouco do coração de Deus. Não é o tipo de pregação que as Escrituras exigem de nós.

Temos de pregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar “o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). É preciso resgatar a visão do pastorado de Calvino quanto a pregação, e este é o nosso grande desafio, numa época de superficialidades e entretenimento.

2) Calvino como visitador.

Expondo a idéia de Calvino quanto à visitação, Wallace diz que se o pastor tiver uma real preocupação pastoral para com aqueles para quem ele está pregando, irá procurar não falhar em visitá-los em seus lares[6]. É explícita esta idéia em Calvino, quando ao comentar Atos 20:20, diz que Paulo estabeleceu um modelo para o ministério da Palavra quando falava sobre como ele não cessava de admoestar tanto “publicamente” quanto de “casa em casa”.[7] “O que quer que os outros pensem, não consideramos nosso cargo como algo dentro de limites tão estreitos como se, quando o sermão estiver terminado, pudéssemos descansar como se nossa tarefa tivesse terminada. Aqueles cujo sangue será requerido de nós se os perdermos por causa de nossa preguiça, devem ser cuidados muito mais de perto e de modo mais vigilante”[8]

Infelizmente essa prática vem aos poucos sendo esquecida, e mesmo aquelas igrejas que ainda valorizam a visitação, nem sempre a faz de maneira eficaz e com o propósito bíblico. Isto porque a visita para muitos, limita-se a uma conversa informal sobre muitos assuntos, acompanhada de uma xícara de café e bolinhos[9]. Contudo, há vários termos na Bíblia que mostram que a visitação pastoral é para encorajar os desanimados ( I Tes 5:11,14;), fortalecer os fracos ( Gl 6:1 ), repreender os desatentos ( 2 Tm 3:16,17 0, instruir na sã doutrina (2 Tm 4.2), etc...

Calvino tinha uma visão clara da finalidade da visita por parte dos pastores e presbíteros. Para ele, a pregação pública deve ser suplementada com visitas pastorais: “Não é suficiente que, do púlpito, um pastor ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução particular de acordo com a necessidade e com as circunstâncias específicas de cada caso”[10]

É fato que o grande reformador, desenvolveu seu pastorado dispensando grande cuidado à visitação dos enfermos[11], e Ronald Wallace nos lembra que Calvino prescreveu em suas Ordenanças Eclesiásticas, que ninguém deveria permanecer três dias inteiros confinado à sua cama sem cuidar para que o ministro seja notificado e...quando qualquer pessoa desejar que o ministro vá à sua casa, deve cuidar de chamá-lo numa hora conveniente para a visita.[12]

Talvez alguém possa pensar que Calvino tinha tempo de sobra e só por isso ele conseguia fazer as visitas. Não é bem assim. Observe como Halsema fala sobre a agenda diária do Reformador:

Calvino trabalhava de uma maneira que teria esgotado qualquer homem com saúde. Estava em pé e ocupado às cinco da manhã. Se doente, ele estava na cama e ocupado, com livros espalhados sobre a colcha. Aos domingos ele pregava duas ou três vezes em Saint Pierre. Em semanas alternadas, pregava sermões na segunda, quarta e sexta-feira. Semanalmente, fazia conferências públicas na terça, quinta e sábado. Nas quintas-feiras ele também presidia a reunião do conselho da igreja, na qual todos os ministros e presbíteros se reuniam para estudar as Escrituras. Calvino assumia sua parcela de responsabilidades nas visitas aos doentes e prisioneiros. Visitava as famílias da sua paróquia com regularidade, como tivera estabelecido nas Ordens. Esses eram os deveres normais.[13]

Não tenho dúvidas de que o domingo é um dia essencial para a realização do serviço pastoral, mas Calvino adverte: “não consideramos nosso cargo como algo dentro de limites tão estreitos como se, quando o sermão estiver terminado, pudéssemos descansar como se nossa tarefa tivesse terminada”[14] Lamentavelmente, existem pastores que pensam e agem desta maneira.

Ricardo Agreste citando Eugene Peterson, deixa muito clara a idéia de que o pastor não deve limitar seu pastorado apenas aos domingos. Diz ele:

Assim, como muitos outros pastores, deparo-me com a realidade de que, apesar do Domingo ser um dia essencial no serviço pastoral, muito deste ministério precisa ser feito em meio ao caos de Segunda a Sábado ....Nossas igrejas estão necessitando de pastores que conduzam suas ovelhas através de suas limitações e crises, com amor e paciência na direção da maturidade em Cristo Jesus. Nossas comunidades precisam de guias que, através da oração e da Palavra, ajudem as pessoas a caminharem através de suas crises e a viverem em meio ao caos.[15]

Mesmo sendo um pastor muito ocupado, Calvino encontrava tempo para a visitação. Mesmo porque, visitar as ovelhas não era uma questão de ter ou não tempo, mas uma questão de visão pastoral. Visitar fazia parte da sua filosofia ministerial. Mormente, precisamos compreender que, o ministério de visitação não teve sua importância apenas nos dias de Calvino. Visitar ainda é relevante para o ministério contemporâneo, pois pela visitação, o pastor adquire direta e imediatamente conhecimento dos problemas básicos e profundos de suas ovelhas, podendo orientá-las nas Escrituras; e é pela visitação que o pastor tem como aplicar de maneira mais pessoal e direta a Palavra de Deus; bem como, pela visitação, o pastor conhece os outros membros da família que porventura não são membros da igreja, tendo assim a oportunidade de falar-lhes de Cristo.

3) Calvino como Conselheiro.

Calvino também no exercício de seu pastorado, sempre procurou encorajar pessoas sobrecarregadas, que não conseguiam encontrar consolo mediante sua própria aproximação de Deus, a procurarem seu pastor para aconselhamento particular e pessoal. Nas palavras de Ferreira, “Calvino é pastor zeloso e incansável no seu esforço em favor de suas muitas ovelhas, sofridas e angustiadas por males de toda sorte” [16].

Conforme registro de um dos seus colegas pastores em Genebra, “(...) os que lhe procuram são recebidos com simpatia, gentileza e sensibilidade. Ele os atende e prontamente lhes responde as perguntas, mesmo as mais sérias delas. Sua sabedoria é demonstrada nas entrevistas particulares tanto quanto nas conversas públicas onde ele conforta os entristecidos e encoraja os abatidos...”[17]

Como já dito, Calvino acreditava que o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias específicas da vida de suas ovelhas. Atendia noivos que estavam se preparando para o casamento, pais que traziam seus problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvia confissões de pecados, e a todos ele os recebia e levava o conforto e o encorajamento necessários[18].

Penso eu, que a razão pela qual Calvino entendia que o aconselhamento era indispensável para o trabalho pastoral, é que Deus estabeleceu a igreja como seu principal instrumento para cuidar de nossas dores e sofrimentos pessoais. Portanto, na qualidade de conselheiro, o pastor não pode deixar para a psicologia secular o cuidado de suas ovelhas, ao contrário, deve assumir esta responsabilidade e restaurar pessoas perturbadas, e orientando-as biblicamente conduzi-las à vidas plenas e produtivas para a glória de Deus.

Concluindo, penso que podemos ter Calvino como um exemplo de pastor, pois o mesmo atende à orientação que Pedro dirige ao escrever a nós pastores nos dias atuais: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos de rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (I Pe 5.1-4).

Sigamos o exemplo de Calvino. Sejamos pastores, pastores de almas.

(Texto primeiramente publicado na Revista PROPOSTA da UPH – Quarto Trimestre de 2004 )


Rev. Gildásio Reis, Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco, formado em psicanálise clínica, Mestre em Teologia pelo centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (Educação Cristã), Mestrando em Ciência das Religiões pela Universidade Mackenzie, e Professor de Teologia Pastoral no Seminário Presbiteriano “Rev. José Manoel da Conceição”.


[1] João Calvino, As Pastorais, Comentário em I Tm 4:13, p. 123
[2] VALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã. 2004 p. 145
[3] Calvino tinha muitos amigos, ebtre eles Viret e Fare, e as cartas escritas a estes dois homens superam em número aquelas dirigidas a qualquer outra pessoa. A Viret escreveu ele mais de 60 cartas e a Farel mais de 90. Através destas cartas é possível conhecer muito o coração pastoral de Calvino. Cf. Ferreira, p. 155
[4] Wallace, Op Cit., p. 144
[5] João Calvino, As Pastorais,( comentário em I Tm 4:16 ), p. 126
[6] VALLACE, Op Cit., p. 147
[7] Calvin, John. Calvin´s Commentaries – The Acts Of The Apostles. Vol. II. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishins Company. 1973 p. 175
[8] Wallace, Op Cit., p. 147
[9] SITTEMA, John. Coração de Pastor – Resgatando a Responsabilidade Pastoral do Presbítero. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2004 p. 198
[10] Calvin, John. Calvin´s Commentaries – The Epistles Of Paul – The Apostle To The Romans And To The Thessalonians. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishins Company. p. 345 ( Ao camentar I Tessalonissenses 2:11, Calvino insiste em que o pastor precisa ser um “pai” para cada pessoa.
[11] LESSA, Vicente Tenudo. Calvino -1509-1564 – Sua Vida e a Sua Obra. São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana. P. 119
[12] Wallace. Op Cit., p. 148
[13] HALSEMA, Thea B. Van. João Calvino Era Assim. São Paulo, SP: ED. Vida Evangélica. 1968. p. 139
[14] Wallace, Op Cit., p 147
[15] http://www.editorasepal.com.br/sepal/jornal/out_dez2001/pastorear.htm ( capturado em 22/03/04 )
[16] Ferreira, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. Campinas, SP: LPC. 1985. p. 153.
[17] Palavras de Nicolas des Gallars registradas por Richardr Staufer em The Humanness of John Calvin (New York: Abingdon Press, 1971) e citadas por Baumann.
[18] Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. Vol. IV, 3: 6 - São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana. 1989.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Características sociais do Homem Urbano

O estudo das relações entre cidade e população leva, em um segundo momento, a indagarmos que tipo de ser humano habita a cidade. Seria possível normatizar um conjunto de traços em comum entre as várias pessoas que compõem a população urbana? Pesquisadores como Simmel, Wirth e Engels têm apresentado estudos discordantes sobre este tema.[1] De qualquer forma, podemos traçar algumas características fundamentais do homem citadino:

1. Indiferença. A indiferença é um traço marcante do homem metropolitano,[2] e Simmel[3] destaca que o homem da cidade tem um traço fundamental da “indiferença” para com o seu semelhante.[4]. Engels, que antes de Simmel, já identificara a “indiferença” como um traço essencial da psicologia do metropolitano moderno disse:

Atropelam-se apressadamente como se não tivessem nada em comum, nada para fazer uns com os outros, e entre eles existe apenas o acordo tácito pelo qual cada um vai na parte do passeio à sua direita para que as duas correntes da multidão, que se precipitam em direções opostas, não lhe interrompam, por seu turno, o caminho; e, todavia, nenhum se digna a olhar para os outros. A brutal indiferença, o insensível isolamento de cada um no seu interesse pessoal ressalta de forma tanto mais repugnante e ofensiva quanto maior é o número destes indivíduos singulares que estão concentrados em um espaço restrito; e ainda que saibamos que este isolamento do indivíduo, este estreito egoísmo é em toda a parte o princípio fundamental da sociedade de hoje, em nenhum lugar, porém, ele se revela de forma tão aberta, tão consciente como aqui, na multidão da grande cidade.[5]

2. Anonimato e isolamento. O grande e rápido aumento do número de habitantes afeta os relacionamentos, diminuindo assim as possibilidades das pessoas conhecerem-se mutuamente. Apesar de encontrar muito mais gente as relações são segmentárias, transitórias, impessoais e superficiais. O resultado disso tudo é o chamado isolamento ou a síndrome da invisibilidade. Alguém por perto não significa, necessáriamente, "proximidade".

3. Competitividade. Segundo Wirth (1973) a vida em contato tão estreito e o trabalho comum, de indivíduos sem laços sentimentais ou emocionais, deselvolvem um espírito de concorrência e exploração mútua.

4. Despersonalização ou impessoalidade. A variedade de tipos de personalidade é tão grande que gera uma estratificação social muito maior que a encontrada em grupos menores e mais integrados e favorece o que Wirth denomina despersonalização. Segundo ele, “nossos conhecidos têm a tendência de manter uma relação de utilidade para nós, no sentido de que o papel que cada um desempenha em nossa vida é encarado como um meio para alcançar determinados fins”.[6] O desdobramento desta face da vida urbana, é a tendência de nivelar todos os seus habitantes. Para lidar com essa intensa diversificação, as instituições sociais acabam por tratar os habitantes como categorias e não como indivíduos. Assim, as pessoas são vistas como números e coisas.

Rev. Gildásio Reis

[1] O próprio Wirth salientou, o efetivo populacional do homem da cidade é necessariamente heterogêneo, o projeto de estabelecer uma caracteriologia demasiado esquemática do homem urbano poderia se chocar, precisamente, com a diversidade humana que a cidade abarca. (Cf. WIRTH, Louis "O Urbanismo como Modo de Vida". In: VELHO, Otávio G. (org.) O Fenômeno Urbano. Ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 1973. p. 97-98)
[2] LINS, Ronaldo Lima. A Indiferença Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Editora URFJ. 2006. p. 8
[3] Sociólogo, Filósofo e Psicólogo, alemão, considerado como pertencente á Escola de Sociologia Alemã, juntamente com Karl Marx e Max Weber. É considerado por muitos autores um dos pais da sociologia moderna.
[4] Revista de História Regional 12(1): 163-174, Verão, 2007
[5] ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, São Paulo: Global, 1985, p.53.
[6]

sexta-feira, 12 de junho de 2009

UMA TEOLOGIA BÍBLICA DA CIDADE


Nova Jerusalém
UMA TEOLOGIA BÍBLICA DA CIDADE

na perspectiva de Apocalipse 21
Rev. Gildásio Reis


A Cidade Santa (21.9-14)
O Adorno da Cidade (21.15-21)
A Iluminação da Cidade (21.22-27)

A Nova Jerusalém é apresentada no livro do Apocalipse como a culminação da história humana. Na Nova Jerusalém todas as promessas de Deus às sete Igrejas da Ásia são cumpridas numa demonstração final da fidelidade divina a Aliança da Graça[1].

A visão da Nova Jerusalém aparece no final, depois de completado o plano de Deus para o mundo. Depois que o julgamento final acabar, a Nova Jerusalém desce do céu indicando que esta cidade era o objetivo final de Deus.

A nova Jerusalém está “descendo do céu, da parte de Deus”. O escritor de Hebreus fala de uma Jerusalém celestial, Monte Sião e cidade do Deus vivo (12.22; ver também 11.10, 16; Gl 4.26). Esta cidade projeta permanência, segurança, beleza e plenitude. Ela tem sua origem no céu e se deriva de Deus, o qual se agrada de habitar com seu povo. No Apocalipse, o nome Jerusalém ocorre somente aqui e em 3.12, e é uma alusão não à capital de Israel, mas à cidade espiritual de Deus. Esta nova Jerusalém que se encontra cheia do povo de Deus desce à terra, razão pela qual o céu e a terra se fundem em um só.[2]

O contexto da visão da Nova Jerusalém é a nova criação. O começo do capítulo 21 do Apocalipse expressa o começo do novo mundo físico. A Nova Jerusalém desce dos céus num ambiente completamente novo[3]. E com ela Deus nos apresenta uma nova forma de relacionamento com a cidade. Já que Deus vive naquela cidade, só o seu povo pode entrar. Conseqüentemente não haverá mais pranto, dor ou morte (Ap 21:4), porque tudo isto é contrario à natureza divina.

João é levado ao topo da montanha de onde ele assiste a descida da cidade: uma cidade incrivelmente bonita. Todas aquelas pedras preciosas, jóias e o mais importante, a glória de Deus brilhando nela. As medidas da cidade são descritas com grande cuidado; a cidade tem o mesmo formato do Santo dos Santos no Tabernáculo[4].

É claro o porque João ter visto um Templo na cidade. A própria cidade é um Templo.[5] O próprio Deus está morando nela. Deus não está mais no meio dos povos, ao contrario, os povos estão vindo encontrar-se com Deus na Sua própria cidade. onseqüentemente não há necessidade de sol, lua ou nenhuma outra forma de luz. A glória de Deus é a luz da cidade (Ap 21:23). Mas a visão de João não termina ai. Ele continua como que descrevendo o propósito desta cidade.

Os próximos três versos se concentram em três aspectos muito importantes desta cidade:

1) Os reis da Terra vão trazer sua glória para a cidade;
2) As portas da cidade jamais se fecharão, porque jamais haverá noite nela;
3) E a glória e honra das nações vão ser trazidas para esta cidade.


Para podermos entender o contraste destes três aspectos da Nova Jerusalém, é preciso apreciar as características das cidades descritas na Bíblia. Em geral estas cidades eram do tipo cidade-estado. Elas tinham muros para proteção contra inimigos; portões para facilitar a entrada e a saída; casas para acomodação do povo; ruas que levavam ao mercado central e também ao palácio onde o rei vivia. Muitos dos aspectos da Nova Jerusalém são parecidos com estes. A Nova Jerusalém tem muros, mas não para proteção contra inimigos, e sim para permitir que a glória do Rei brilhe. Ela também tem portões, mas estes são somente para entrada. Ninguém sai porque todos vieram ver o Rei. A Nova Jerusalém tem ruas que levam ao Trono do Rei, aonde o povo vai louvá-lo e cultuá-lo para sempre. É obvio que embora a Nova Jerusalém não seja uma imagem completamente nova do que uma cidade é, ao contrario, a Nova Jerusalém é aquilo que a cidade deveria ter sido desde o começo.

A Primeira Cidade Mencionada na Bíblia

A primeira cidade mencionada na Bíblia é a cidade fundada por Caim (Gn 4:17). O contexto em que esta cidade é apresentada é muito importante. Caim estava discutindo com Deus sobre o que ele havia feito para com seu irmão e qual seria o julgamento de Deus sobre ele. Caim reclama de que ele não suportaria aquele castigo e Deus, cheio de compaixão em sua graça, permite que Caim não fique em completo desespero, sem nenhuma proteção. Caim ficou contente com a solução divina porque ele não ficou solto num mundo em anarquia total.[6] A ele foi permitido se encontrar com outras pessoas e, inclusive, construir uma cidade. Conseqüentemente a cidade em si não era uma coisa ruim; ela surgiu diretamente da graça de Deus. Kline até argumenta que a construção de cidades era o propósito do “Mandado Cultural”[7]

Se o conceito da cidade não está errado em si próprio, qual é o problema então? O problema é o uso que foi feito dela pelo homem caído que estragaram o propósito da cidade. Quando Caim inaugura a cidade ele a nomeia em homenagem a seu filho chamado Enoque. Desde o recomeço Caim comete o mesmo erro que o levou a matar a seu irmão. Ele estava mais preocupado em edificar seu próprio nome ao invés de dar glórias a Deus por aquilo que Deus havia feito por ele. A narrativa mostra uma situação até pior com o progresso da genealogia. Lameque, um descendente direto de Caim, usa sua autoridade de líder da cidade para quebrar os mandamentos de Deus em relação à família: ele toma para si duas esposas. Como se isto não bastasse, ele também abusa da sua autoridade e estabelece leis opressivas para lidar com aqueles que não concorda com ele. As palavras de Lameque às suas esposas, claramente demonstram sua rebelião contra Deus: “Sete vezes se tornará vingança de Caim, de Lameque, porém, 70 vezes sete” (Gn 4:24). Isto é uma perversão do propósito divino para o estado.[8]

Como Kline diz, também a cidade se torna o Templo do homem.[9] Lameque, em suas próprias palavras está tentando ser como Deus.

A narrativa é interrompida neste ponto e a genealogia de Sete é apresentada, mas logo depois desta o autor volta ao tema da cidade dominada pelo homem. Em Gênesis 6, nós temos a razão porque Deus mandou dilúvio. O abuso de autoridade agora é ainda maior. O número de pessoas aumentou e o número de casamento também, e no versículo 5 nós vemos que a maldade continuava e o desígnio do coração era continuamente mau.

Provavelmente a pior fase desta narrativa é a atitude dos lideres (Gn 6:2). Eles se chamavam a si mesmos Filhos de Deus.[10] Eles falam como se Deus não estivesse no controle e também agem como Deus e tomam as responsabilidades de Deus, como se fossem seus filhos. Deus não poderia mais agüentar esta situação e então Ele os destrói com o dilúvio.

Com o remanescente desta destruição, Noé e sua família, Deus começa aquilo que poderia ser chamado de a “re-criação”. Os paralelos entre a criação original e esta não é somente simbolismo, mas um paralelo nas próprias palavras de Deus. O mesmo caos em água aparece nos dois episódios. Mas o mais imprescindível é que o “Mandado Cultural” é repetido em Gn 9:1. Isto é um sinal claro de um novo começo. Infelizmente é a história do homem tentando tomar outra vez lugar de Deus. O propósito é claro: eles querem uma cidade que engrandeça o nome deles, ao invés de irem, através da Terra, como Deus ordenara (Gn 11:4).

Este estado de apostasia se tornou mais uma vez insuportável para Deus. Entretanto, Ele se mantém fiel a sua Aliança com Noé e não destrói o povo. Deus apenas promove uma confusão na língua deles, de maneira que eles abandonam aquele projeto e fazem aquilo que eles deveriam ter feito desde o começo (Gn 11:6-7).

O contraste entre estas duas cidades e a Nova Jerusalém é claro. Enquanto estes tiranos opressores usam as cidades para a sua própria glória e propósito, na Nova Jerusalém os reis da Terra vêm para apresentar a glóriade Deus. (Ap 21:24). O propósito de Deus jamais falha. Na Nova Jerusalém Deus claramente demonstra o seu propósito escatológico para a cidade.[11] A cidade era para ser um lugar onde os reis viriam para exaltar o Rei dos Reis e não para elevar a si próprios. Duas vezes no começo da historia humana Deus atuou para corrigir esta perversão.

Contraste Entre a Cidade dos Homens e A Cidade de Deus

Na Nova Jerusalém “as nações andarão mediante a sua luz” (Ap 21:24). Jamais haverá noite naquela cidade (Ap 21:25). Que contraste em relação as cidades construídas pelos homens. Mesmo durante o dia era perigoso andar pelas ruas por causa do despotismo daqueles que tomaram o lugar de Deus naquela cidade. Não havia segurança para aqueles que estavam oprimidos. É inclusive possível dizer que até durante o dia na cidade dos homens, é sempre noite. As ameaças da noite estão sempre presentes. Na Nova Jerusalém, entretanto, as nações podem caminhar livremente, porque as luzes da cidade vêm daquele que a construiu: Deus. Não há ameaça nas ruas da Nova Jerusalém, por isto seus portões estão sempre abertos. Não há mal na cidade, somente aqueles que podem viver diante da glória de Deus a esta cidade pertence. Conseqüentemente, a Nova Jerusalém é somente para aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida.[12]

Deus em seu plano soberano não construiu a Nova Jerusalém imediatamente, porque Ele não poderia deixar o homem sem um ponto de referência sobre o que ele deveria fazer. Então, de um dos povos que saiu do caos de Babel, Deus escolhe um homem e torna-o especial. Porque ele era especial? Não só porque ele havia sido criado por Deus mesmo, mas também por causa do que ele representava para a humanidade, de acordo com o plano divino. Em Gênesis 12, quando Deus escolhe Abrão, mais uma vez ele declara o seu plano universal: alcançar todas as nações. Como poderia Deus conseguir isto? A Lei que ele deu ao seu povo demonstra como. Agora, pela primeira vez da história do homem, os desafortunados teriam um lugar determinado. As leis sob as quais Israel deveria viver refletiam o propósito de Deus para qualquer ajuntamento de seres humanos em sociedade.

Até uma rápida leitura pelo Pentateuco deixa isto claro. Por exemplo, os fazendeiros deveriam deixar as arvores na borda de sua propriedade sem colher o que caísse no chão, para que os pobres colhessem e tivessem o que comer (Lv 19:9-10). Outro exemplo claro do propósito divino é o princípio do Jubileu. A cada 50 anos toda propriedade voltaria para a família original e todos os débitos seriam cancelados (Lv 25). Infelizmente, Israel jamais seguiu estas normas de Deus e, conseqüentemente, sofreu de acordo com o julgamento provido por Deus na sua Aliança.

É interessante notar que os profetas que perceberam a situação receberam a mensagem de Deus e proclamaram-na.

Ambos, Isaías e Ezequiel, referiam-se a uma cidade onde toda injustiça e quebra da Aliança não aconteceria. Isaías 60 e Ezequiel 48 são exemplos claros desta expectativa. Isaías fez muitas referências explícitas a esta cidade. As descrições e expectativas são claras paralelas à Nova Jerusalém. Esta cidade tem uma posição tão importante que Is 60:14 a chama de “a cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel”. Esta cidade, a Nova Jerusalém, será o centro do mundo.[13]







A Cidade descrita de Isaías 60

A semelhança desta cidade descrita por Isaías, como a Nova Jerusalém, explica porque ela ocupa uma posição tão central. Como na Nova Jerusalém as nações virão para a luz desta cidade. Os reis virão para a claridade (Is 60:3), Isaías não identifica claramente como João de onde a luz vem; entretanto, há pouquíssima dúvida sobre a sua origem. Há somente uma luz que atrairia os reis das nações desta maneira. Tem que ser uma luz mais forte do que a glória deles mesmos. Para Isaías é a glória de Deus que se eleva sobre os povos; para João é a glória do Senhor que está na cidade.

Ezequiel declara a razão porque esta luz é tão impressionante quando ele descreve os portões da cidade. Ele declara que o nome da cidade é “O Senhor está ali” (Ez 48:35). A presença de Deus é a fonte desta luz. Por isso é que João pode dizer que jamais haverá noite na Nova Jerusalém (Ap 21:25). A glória do Senhor proverá luz. É preciso lembrar de que só pelo fato desses reis virem para a cidade, eles estão reconhecendo que Deus é o verdadeiro Rei. E o reconhecimento de que eles estão sob o governo de Deus.

Esta idéia de submissão é mais enfática ainda em Is 60:5. Todas as riquezas das nações vão ser trazidas para a cidade (Lv 21:26). Este era um costume comum entre os participantes de uma Aliança. O participante inferior precisa trazer atributos para manter um bom relacionamento com o superior. A diferença na Nova Jerusalém é que eles estão fazendo isto não porque eles estão presos ao contrario da Aliança, mas porque eles reconhecem quem é Rei da cidade. Aquela glória brilhante não poderia deixar dúvidas.

Isaías 60:11 se refere a outra característica da cidade. Os portões jamais se fecharão. A razão é que os povos poderão trazer as suas riquezas o tempo todo. Esta nova cidade é um lugar de liberdade. É um lugar onde o novo pode vir e passear com toda esta riqueza, sem medo. O contraste é claro em relação às cidades em que eles viviam. Isaías 60:17 nos dá a razão deste contraste: paz e justiça governarão. Nas cidades dos homens o despotismo e a injustiça são as características. A cidade do Senhor é um lugar onde a sua justiça e a paz são as normas de governo. Conseqüentemente, a Nova Jerusalém é, não somente, a esperança de Israel, mas de todas as nações. A Nova Jerusalém é a realização escatológica do propósito divino para acidade. Como Deus é justo, a cidade deverá providenciar um lugar para o homem cultuar a Deus em paz e fazer justiça a todos os homens.

A vinda de Cristo e o seu relacionamento com Jerusalém é importantíssimo para se compreender o significado da cidade. É em Jerusalém que Cristo passa pelas maiores dificuldades e, sem sombra de dúvidas, é lá que ele mora. As próprias palavras de Cristo, em Mt 16:21 e 23:37-39, demonstram como ele mesmo se sentia com relação à cidade.

No primeiro texto o Senhor vê Jerusalém como o lugar do seu sofrimento. É em Jerusalém que a injustiça contra ele acontecerá. Os lideres e o povo da cidade vão tirar a vida do Filho de Deus. Este é provavelmente o ponto mais baixo que uma cidade poderia chegar. O propósito da cidade, sob a graça comum de Deus era a proteção do homem. O governo de uma cidade era o meio providenciado por Deus para controlar a depravação. Conseqüentemente, quando o homem abusou do poder que lhe fora dado e matou o Filho de Deus, eles chegaram ao ponto mais baixo possível.

No segundo texto (Mt 23), Cristo se refere a cidade com pena.

Ele está sentido porque a cidade não alcançou o propósito para o qual ela havia sido criada; entretanto, neste lamento o Senhor dá esperança à cidade. Ele nunca disse que não voltaria mais lá. Como aquele que havia vindo em nome do senhor, Ele haveria de voltar. Na Nova Jerusalém todos O reconheceriam em sua glória. Todos saberão que é o Rei e Governador.

A relação entre Jerusalém e a Igreja também é importante. Em Atos 1:8 achamos o mandamento de Cristo aos discípulos para ficarem lá até que o Espírito Santo venha. Só depois disto eles deveriam partir de lá, através dos portões, levando a mensagem do evangelho. Eles deveriam ir por todo mundo com esta mensagem. Eles deveriam alcançar todas as nações. A semelhança com a Nova Jerusalém é óbvia: no fim será o oposto. De todas as nações povos virão trazendo as suas riquezas para a Nova Jerusalém. Eles entrarão pelos seus portões que estão sempre abertos. Da antiga Jerusalém a Igreja saiu com a luz em direção às cidades em escuridão, de um mundo perdido. No final, na Nova Jerusalém, os povos virão para a eterna luz da glória daquele que originalmente enviou a Igreja.

Como toda cidade a Nova Jerusalém terá gente morando nela. Estes povos são aqueles que foram alcançados pela mensagem da Igreja que partiu da antiga Jerusalém. O Apóstolo Paulo, em Ef 2:19 e Fp 3:20, trata os cristãos como cidadãos dos céus. Este é o povo que habitará a cidade que descerá dos céus. Este é o povo que trará as glórias e riquezas das nações para a cidade. Em Gl 4:25-27, Paulo compara as duas Jerusalém. A Jerusalém da Palestina é compara com Agar, devido a sua triste situação do seu povo: ambos estão sob o domínio de líderes injustos e ainda pior, estes líderes são estrangeiros, não da linhagem de Davi.

Mas a Nova Jerusalém, a que vem dos céus, é compara com Sara, porque ela é livre e mãe de todos os que crêem. Paulo lembra-nos de que Sara era estéril antes dela receber a promessa de um filho. Assim mesmo, Deus fê-la a esperança de todas as nações. Da mesma forma a Nova Jerusalém é a esperança de todos os povos. Todos podem olhar para o futuro quando somente o justo Rei estará à frente e todos virão vê-lo na sua própria cidade.

O livro de Apocalipse é extremamente para se entender o lugar da Nova Jerusalém no plano divino. Uma analise retórica deste livro, demonstra o lugar que esta cidade tem no livro. Ela aparece não somente no final numa posição de proeminência, mas logo após o julgamento final e da nova criação. Esta cidade se torna na residência final e permanente de muitos. É um lugar de segurança, um lugar de comunhão e beleza. Nesta cidade todos os efeitos do pecado não existirão . É óbvio que a Nova Jerusalém não é apenas uma cidade qualquer. É uma cidade muito especial como se percebe numa análise retórica detalhada da estrutura do livro de Apocalipse.

A idéia de uma cidade como o ambiente para o qual Deus está levando João é claro. Em cada divisão do livro há menções de pelo menos um tipo de cidade. A visão de João começa com a responsabilidade que ele teria de escrever às sete cidades. Nas cartas a estas cidades encontramos referências a certas particularidades sobre estas cidades e uma promessa a cada uma delas. Na carta à Igreja de Filadélfia a promessa é explicita com referencia à Nova Jerusalém (Ap 3:12).

Após a carta para as Sete Igrejas, vem os sete ciclos que culminam com o evento final da História da Redenção: a revelação da Cidade Santa. Em cada um destes ciclos encontra-se características que ajudam um melhor entendimento, da Nova Jerusalém. Entre estas ilustrações e analogias, a mais proeminente é Babilônia. A Babilônia representa o anti-tipo da Nova Jerusalém. Babilônia, a cidade mundana que lidera os reinos humanos (Ap 14:8). O contraste com a Nova Jerusalém é óbvio. A Babilônia lidera estes reinos para adultério e orgias, enquanto que na Nova Jerusalém as nações vêm com o melhor de si para louvar o único Rei.

Mais surpreendente ainda é a relação entre Babilônia e a Jerusalém terrena. Apocalipse 11 faz duas comparações assustadoras de Jerusalém com pelo menos duas outras também deturpadas. No verso 8 Jerusalém é chamada de grande cidade, mas ao mesmo tempo são assim chamados Sodoma e Egito. Vale a pena lembrar que foi do Egito que Deus libertou Israel e assim foi fiel a sua Aliança com Abrão. Deus fez de Israel uma nação. Em outras palavras, Jerusalém se tornou um lugar tão ruim quanto o Egito, de onde o povo de Deus fora libertado. Novamente o contraste com a Nova Jerusalém é óbvio. Ela não é comparada com nenhuma outra cidade. Aqueles que estão na Nova Jerusalém são aqueles a quem Deus vem fazendo promessas por todo o livro do Apocalipse: aqueles que são fieis e perseveram.

A nova Jerusalém é chamada santa ( Ap 21:10 ), o que significa que a cidade foi consagrada por Deus como um lugar sem pecado; em outros termos, ela é perfeita em todos os aspectos. O privilégio de viver para sempre na presença de Deus nos constitui seu gracioso dom. Em dado momento na história humana, as pessoas resolveram construir a torre de Babel com o intuito de atingir o céu; Deus, porém, frustrou seus esforços (Gn 11.1-9). À guisa de contraste, Deus toma a iniciativa, trazendo a nova Jerusalém para a terra. Ela é a cidade de Deus que desce para a terra, não dos seres humanos que decidem ligar sua cidade ao céu. A antiga Jerusalém devastada pelo pecado não mais pode ser chamada santa depois da morte de Jesus (ver comentário sobre 11.2). A nova Jerusalém é isenta de pecado e seu nome se resume em a cidade santa.[14]


Preparando-nos para a revelação da Nova Jerusalém, João descreve a queda da Babilônia. Esta queda é importante porque demonstra a finitude da Babilônia, em contraste com o caráter eterno da Nova Jerusalém. Apocalipse 8 retrata o destino da Babilônia. No verso 10 a destruição do seu poder é anunciado; no verso 16 a ruína de sua riqueza é proclamada e, no verso 19 o seu povo poderoso é também destruído. Como se existisse alguma dúvida ainda, João deixa claro, nos versos 21-24, onde a destruição final da Babilônia é relatada. O palco está pronto para a revelação da cidade eterna. A cidade onde o líder e a autoridade não levarão ninguém para caminhos perversos. Na Nova Jerusalém nunca jamais penetrará cousa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira (Ap 21:27).

A Nova Jerusalém representa o ultimo estado no campo espiritual de comunhão com Deus. A Nova Jerusalém é a realização da comunhão da comunidade redimida, vivendo na presença de Deus.[15] Na Nova Jerusalém a luz da glória do Cordeiro vai iluminar o caminho para os reis virem com seu esplendor para a cidade. Agora eles não são mais os opressores, mas vem se submeter a Deus. A cidade, lugar que os reis usaram para oprimir o povo se torna o lugar da reconciliação deles com a autoridade máxima, DEUS. A centralidade do Cordeiro que permeia toda a história é totalmente expressa. Os portões da cidade estarão abertos para sempre, de modo que as nações possam vir e cumprir o seu propósito. Eles vem trazer a sua glória e honra para aquele a quem eles se recusaram a reconhecer. Como Kline diz, a cidade não é o reino de Satanás (Kline, 1983, p. 28), e isto porque o Rei da cidade é Cristo a quem Deus exaltou acima de todos. Como se não bastasse, Paulo diz aos Filipenses: “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. (Fp 2:10-11)

A Nova Jerusalém é onde esta proclamação de Paulo será totalmente cumprida.


Sugestões Bibliográficas

Henry Barclay, Swete, Commentary on Revelation (1911; reimp. em Grand Rapids: Kregel, 1977

Hendriksen, William. Mais Que Vencedores. São Paulo, SP: CEP. 1987

G. B. Caird (A Commentary on the Revelation of St. John the Divine [Londres: Black, 1966],

Beasley-Murray, G. R. – The Book of Revelation – New Century Bible Greenwood: Attic Press, Inc, 1978.

Kline, Meredith G. – Images of the Spirit – Baker Biblical Monograph Grand Rapids: Baker Book House – 1980.

Ladd, George E. – A Commentary on the Revelation of John – Grand Rapids: Eerdmans – 1972.

Morris, Leon – The revelation of St. John – Tyndale New Testament Commentaries – Grand Rapids: Eerdmans – 1976.

Mounce, Robert H. – The Book of Revelation – The New International Commentary of the New Testament Grand Rapids: Eerdmans – 1977.

Rissi, Mathias – The Future of the World – Naperville: lec R. Allenson Inc, 1966.

Rissi, Mathias – Time and History: a study on the Revelation – Richmond: John Knox Press – 1966.

[1] Kline, Meredith G. Images Of The Spirit. Baker Biblical Monograph Grand Rapids: Baker Book House.1980, p. 26
[2] Gerhard A. Krodel (Revelation, ACNT [Minneapolis: Augsburg, 1989], pp. 344-45) observa que Paulo descreve sua visão dos cristãos sendo “arrebatados” nas nuvens (1Ts 4.17), João, porém, indica um movimento oposto dos santos redivivos descendo do céu para a nova terra.
[3] Ladd, George. A Commentary on The Revelation Of John. Grand Rapids : Eerdmans. 1972, p. 276
[4] Morris, Leon. The Revelation Of The John . Thindale New Testament Commentaries. Grand Rapids: Eerdmans. 1976, p. 250
[5]Kline, Op Cit., p. 26
[6] Kline, Op Cit., p. 72
[7] Kline, Op Cit., p. 23
[8] Kline, Op Cit., p. 71
[9] Kline, Op Cit., p. 46
[10] Kline, Op Cit., p. 83
[11] Rissi, Mathias. The Future Of The World. Naperville: R. Allenson Inc. 1966, p. 53
[12] Mounce, Robert H. The Book Of Revelation . The New International Commentary Of The New Testament. Grand Rapids: Eerdmans.1977, p. 385
[13] Rissi, Op Cit., p. 42
[14] Van de Kamp, Israël in Openbaring, pp. 269, 278.
[15] De Young, James C. Jerusalém In The New Testament. N.V. Kamper: J. H. Kok. 1960, p. 163.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Cidades: Fronteiras Missionárias no Séc. XXI

A cidade tem sido objeto de estudo de várias áreas do saber, tais como a sociologia, a antropologia, a história, bem como a teologia. A Bíblia menciona a cidade inúmeras vezes e não poderia ser diferente, considerando que a cidade é uma realidade “humana”.

Freqüentemente, temos feito uma leitura do texto bíblico numa perspectiva rural. Não obstante, o povo de Israel ter sido um povo de comunidade rural durante grande parte de sua história, não se pode negar que a Bíblia é um livro também urbano. Nela encontramos referências às cidades de Roma (650 mil habitantes), Alexandria (400 mil habitantes), Éfeso (200 mil habitantes), Antioquia (150 mil habitantes), apenas para citar algumas.[1] Muitos dos personagens bíblicos foram pessoas da cidade. Davi, Salomão, Jeremias e Isaías viveram e trabalharam em Jesrusalém. O profeta Daniel ocupou um importante cargo na Babilônia. E com Neemias pode-se aprender princípíos de organização e planejamento urbanos (HOFFMANN, 2007, p.56).

O cristianismo primitivo foi um movimento urbano com o compromisso de enfrentar os desafios de sua época. Não tem sido diferente agora no séc. 21. É preciso perceber que a cidade, ainda em nossos dias, se apresenta de maneira desafiadora para a igreja, conclamando-a a entender a sua realidade. Sem essa compreensão a igreja não terá uma ação relevante no ambiente citadino.

Tomei a iniciativa de criar este blog, o qual é um instrumento da cidade do séc. XXI, para ser um espaço de reflexão sobre o fenômeno urbano e, buscarmos com outros colegas e amigos, alternativas para a ação integral da igreja na cidade.

Espero contar aqui com suas sugestões, críticas, e coperação com textos sobre a missão da igreja na cidade.

Anote aí meu e-mail: gildasioreis@terra.com.br

Rev. Gildásio Reis

[1] Estes dados, fruto de um estudo realizado por Chandler e Fox, que trabalharam para documentar as populações mais antigas, estão citadas na obra do sociólogo Rodney Stark em “O Crescimento do Cristianismo”. São Paulo, SP: 1996 pp. 147-149.