terça-feira, 16 de junho de 2009

Características sociais do Homem Urbano

O estudo das relações entre cidade e população leva, em um segundo momento, a indagarmos que tipo de ser humano habita a cidade. Seria possível normatizar um conjunto de traços em comum entre as várias pessoas que compõem a população urbana? Pesquisadores como Simmel, Wirth e Engels têm apresentado estudos discordantes sobre este tema.[1] De qualquer forma, podemos traçar algumas características fundamentais do homem citadino:

1. Indiferença. A indiferença é um traço marcante do homem metropolitano,[2] e Simmel[3] destaca que o homem da cidade tem um traço fundamental da “indiferença” para com o seu semelhante.[4]. Engels, que antes de Simmel, já identificara a “indiferença” como um traço essencial da psicologia do metropolitano moderno disse:

Atropelam-se apressadamente como se não tivessem nada em comum, nada para fazer uns com os outros, e entre eles existe apenas o acordo tácito pelo qual cada um vai na parte do passeio à sua direita para que as duas correntes da multidão, que se precipitam em direções opostas, não lhe interrompam, por seu turno, o caminho; e, todavia, nenhum se digna a olhar para os outros. A brutal indiferença, o insensível isolamento de cada um no seu interesse pessoal ressalta de forma tanto mais repugnante e ofensiva quanto maior é o número destes indivíduos singulares que estão concentrados em um espaço restrito; e ainda que saibamos que este isolamento do indivíduo, este estreito egoísmo é em toda a parte o princípio fundamental da sociedade de hoje, em nenhum lugar, porém, ele se revela de forma tão aberta, tão consciente como aqui, na multidão da grande cidade.[5]

2. Anonimato e isolamento. O grande e rápido aumento do número de habitantes afeta os relacionamentos, diminuindo assim as possibilidades das pessoas conhecerem-se mutuamente. Apesar de encontrar muito mais gente as relações são segmentárias, transitórias, impessoais e superficiais. O resultado disso tudo é o chamado isolamento ou a síndrome da invisibilidade. Alguém por perto não significa, necessáriamente, "proximidade".

3. Competitividade. Segundo Wirth (1973) a vida em contato tão estreito e o trabalho comum, de indivíduos sem laços sentimentais ou emocionais, deselvolvem um espírito de concorrência e exploração mútua.

4. Despersonalização ou impessoalidade. A variedade de tipos de personalidade é tão grande que gera uma estratificação social muito maior que a encontrada em grupos menores e mais integrados e favorece o que Wirth denomina despersonalização. Segundo ele, “nossos conhecidos têm a tendência de manter uma relação de utilidade para nós, no sentido de que o papel que cada um desempenha em nossa vida é encarado como um meio para alcançar determinados fins”.[6] O desdobramento desta face da vida urbana, é a tendência de nivelar todos os seus habitantes. Para lidar com essa intensa diversificação, as instituições sociais acabam por tratar os habitantes como categorias e não como indivíduos. Assim, as pessoas são vistas como números e coisas.

Rev. Gildásio Reis

[1] O próprio Wirth salientou, o efetivo populacional do homem da cidade é necessariamente heterogêneo, o projeto de estabelecer uma caracteriologia demasiado esquemática do homem urbano poderia se chocar, precisamente, com a diversidade humana que a cidade abarca. (Cf. WIRTH, Louis "O Urbanismo como Modo de Vida". In: VELHO, Otávio G. (org.) O Fenômeno Urbano. Ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 1973. p. 97-98)
[2] LINS, Ronaldo Lima. A Indiferença Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Editora URFJ. 2006. p. 8
[3] Sociólogo, Filósofo e Psicólogo, alemão, considerado como pertencente á Escola de Sociologia Alemã, juntamente com Karl Marx e Max Weber. É considerado por muitos autores um dos pais da sociologia moderna.
[4] Revista de História Regional 12(1): 163-174, Verão, 2007
[5] ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, São Paulo: Global, 1985, p.53.
[6]

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