quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Conceito de Hermenêutica em René Padilla









Um dos temas que pude conversar com Padilla foi sobre sua hermenêutica. Alguns pontos precisavam ser melhor esclarecidos, até mesmo em razão do forte componente social presente em seus textos.

O termo “hermenêutica” é uma transliteração do verbo grego "hermēneuein" e significa "esclarecer", "anunciar", "interpretar" ou ainda, "traduzir". Aparece em Lucas 24:25-28, onde é traduzido para o português por “explicar”. Podemos dizer que a hermenêutica nos ensina os métodos ou princípios para tornar algo compreensível (KAISER & SILVA, 2002, pp. 13-15).

Nossa preocupação aqui é com a chamada hermenêutica bíblica e sua relação com o tema da Missão Integral. Com a questão: “De que vale as Escrituras serem normativas se não respondem as perguntas que surgem em nossa situação contemporânea?” (1984, p. 13), Padilla quer mostrar que uma hermenêutica para ser fiel à Bíblia e também relevante para nossos dias, precisa ser contextual. Em seu artigo “Hacia una hermenêutica contextual”, propõe:
Uma hermenêutica que considere seriamente a situação e que faça possível que a mensagem bíblica registrada nos textos antigos tome contato com a situação dos seus leitores e ouvintes modernos, e ao mesmo tempo se mantenha fiel ao seu propósito original (1984, p.1)

Neste artigo, o autor descreve três diferentes maneiras de se aproximar da Escritura: intuitivo, científico e contextual.

2.1.6.1. O modelo intuitivo: Segundo Padilla, neste modelo, o leitor se aproxima da Escritura colocando ênfase na aplicação da mensagem. Nesta forma, na maioria das vezes o leitor não tem qualquer preocupação com a exegese, mas tão somente em como a mensagem extraída da simples leitura tem aplicação à realidade experimentada por ele naquele momento.

2.1.6.2. O modelo científico: Trata-se de uma abordagem em que o leitor se aproxima do texto com o uso de ferramentas exegéticas e sempre preso às tecnicidades. Trata-se de uma tarefa que freqüentemente é realizada por uma pessoa cujo treinamento recebido a ajudou a conhecer bem as línguas originais e as circunstâncias históricas e culturais dos textos no seu âmbito original. Este modelo, históricamente, tem sido conhecido como “método histórico-gramatical” .

Padilla vê certa limitação no método histórico-gramatical em que, segundo ele, esta abordagem crítica não conseguiu propiciar uma aproximação ao texto que fosse fiel ao seu propósito, ou seja, comunicar-se com o leitor comum. Trata-se de um método que, não obstante, ter seu valor, não tem sido muito útil em ajudar o leitor a transpor o abismo existente entre o autor original e o leitor moderno (1984, p.3). Ao destacar o valor do método histórico-gramatical Padilla entende que o valor deste modelo está em que considera a natureza histórica da revelação bíblica, mas falha por aumentar o abismo entre a Bíblia e os leitores contemporâneos. O método científico pressupõe que a tarefa do intérprete se limita a definir a mensagem original do texto, deixando de lado a aplicação da mensagem. Sua opinião sobre a tarefa do intérprete é expressa, com muita coerência e persuasão, nos seguintes termos:

A tarefa da hermenêutica não se limita a definir a mensagem original do texto. Além do mais, o intérprete não pode supor que o único contexto histórico concreto que tem que levar em conta é o contexto histórico relacionado ao texto, como se o mesmo fosse um ser ahistórico. A hermenêutica tem a ver com a transposição da mensagem bíblica do contexto histórico original ao contexto histórico do intérprete moderno, de modo que o texto escrito no passado tenha impacto no presente. (1984, p. 3)

2.1.6.3. O modelo contextual: Tendo destacado as limitações dos dois métodos anteriores, Padilla vê no método contextual uma abordagem que procura combinar o que tem de positivo nos dois modelos anteriores e desfaz o abismo existente entre o passado e o presente. Procura falar ao leitor contemporâneo sem perder o significado original. Para Padilla, a hermenêutica não deve se preocupar em apenas encontrar o significado original do texto e desconsiderando o leitor como se este fosse ahistórico (1984, p.3). Ao contrário, a hermenêutica, deve cumprir a função de, além de descobrir o sentido original, deve transportar a mensagem para o contexto do leitor moderno.

Por hermenêutica contextual, Padilla entende:

O contexto do leitor contemporâneo tem muito em comum com o do contexto original da mensagem bíblica e ele pode, consequentemente, apropriar-se dessa mensagem hoje e que esta apenas pode ser entendida corretamente a luz de seu contexto original. Tanto o contexto do texto antigo como o contexto do leitor moderno recebem o peso que lhes corresponde. O objetivo é que o horizonte do texto da situação histórica contemporânea venha se unir com o horizonte do texto, de maneira tal que a mensagem proclamada na situação contemporânea seja um equivalente dinâmico da mensagem proclamada no contexto original (1984, p. 4, tradução nossa)

Para que esta tarefa hermenêutica possa se realizar de maneira eficiente, é preciso que o texto e o intérprete se condicionem mutuamente (GADAMER, 997. p. 455) e deve ser tomado em consideração quatro elementos dentro do circulo hermenêutico: 1) A situação histórica do intérprete 2) A cosmovisão do intérprete 3) As Escrituras Sagradas e 4) A teologia.

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