segunda-feira, 26 de outubro de 2009

VENCENDO O PAVOR DA MORTE



Razões pelas quais o cristão não deve temer a morte
II Coríntios 5:1-10

Rev. Gildásio Jesus Barbosa dos Reis (Th.M)

MORTE! Esta palavra causa pânico e pavor em muitas pessoas, pois a idéia de ter que deixar este corpo ainda está em desarmonia com o espírito do homem. Ela é sempre pintada com aspectos horripilantes e amedrontadores, mas nem sempre é assim. No ensino de Jesus, a partida desta vida significa a entrada no céu, a presença e comunhão com Ele.

O apóstolo Paulo, em 2 Co. 5:1-10, apresenta pelo menos quatro razões pelas quais os cristãos não devem temer a morte. Obviamente que a morte não deve ser entendida por nós como prazer ou como uma situação que desperte desejo, mas, que não devemos tê-la como derrota, antes, como uma vitória gloriosa. Vejamos, portanto, estas razões:

1ª RAZÃO: A morte da início a uma morada eterna nos céus e encerra a morada provisória na Terra (VS. 1 E 2).

O apóstolo Paulo usa aqui dois termos que se contrastam. Tabernáculo (tenda) e Edifício. Enquanto o primeiro é usado para descrever uma habitação provisória e temporária, ou seja, hoje ela está aqui e amanhã pode não estar, o segundo é usado para descrever uma habitação permanente, com uma estrutura sólida que não é removível.

Paulo está ciente de que esta tenda (nosso corpo) pode ser facilmente desmanchada, mas, diz ele, que se isso vier a acontecer, temos da parte de Deus em Edifício, uma casa eterna nos céus.

Para o cristão, a morte é a mudança de uma tenda para uma mansão. Na morte, trocamos este casebre que se esmigalha (14:16), que é frágil, para uma casa feita não por mãos humanas, mas eterna nos céus.

O cristão não deve temer a morte porque sabe que um dia, ao deixar esta tenda, vai receber um edifício celestial (corpo ressureto) e eterno, por isso Paulo afirma “...assim fixamos os olhos, não naquilo que se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.” (2 Co 4:18).

A Bíblia diz que somos estrangeiros e peregrinos em Terra estranha. Este mundo não é nosso Lar; nossa Pátria está no céu (Fp 3:20). Quando um cristão morre, entra na presença de Cristo. Ele vai para o céu passar a eternidade com Deus.

2ª RAZÃO: A morte coloca fim a todos os nossos sofrimentos.

No contexto imediato que antecede a esta passagem, Paulo vinha falando de “um corpo que se deteriora”, de “uma leve e momentânea tribulação”(2 Co 4:16,17). Aqui em 5:4 ele diz que “neste tabernáculo gememos e nos angustiamos”.

Para muitas pessoas, a dor vem, os problemas surgem e tiram o sono delas. A doença bate à porta, sem haver sido convidada, agindo como intrusa. A angústia vive rasgando o coração, machucando e destroçando nossas esperanças. Quantas pessoas com os problemas da alma, depressão, vazio, problemas familiares e tantos outros ...

Enquanto aqui, nessa tenda frágil, estamos sujeitos à doenças, aos perigos e dores; na morte adquirimos uma mansão que jamais ruirá. João diz “Então ouvi uma voz do céu dizendo: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas fadigas ... “ (Ap. 14:13).

Graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Jesus Cristo (1 Co 15:55-57).

Neste novo céu, “Deus enxugará todas as nossas lágrimas; já não haverá luto, nem dor, nem pranto, porque as primeiras coisas já passaram”. (Ap. 21:4).

O cristão não precisa ter pavor da morte, pois o céu significa que todas as nossas lágrimas deixarão de existir. O céu é um lugar de descanso, diz a Bíblia.

3ª RAZÃO: A morte significa o nosso resgate como propriedade de Deus (V.5)

Paulo afirma aqui no v.5 que o Espírito Santo é o penhor, ou sejam a garantia de Deus, com que Ele se compromete a vir e buscar o seu povo com segurança à herança final.

A palavra “penhor” também aparece em Efésios 1:14, quando também se referindo ao Espírito, diz que ele “é o penhor da nossa herança até o resgate da Sua propriedade ...”

Este termo (penhor) era usado nas transações comerciais antigas e significava “primeira prestação, depósito”. Paulo diz que o Espírito Santo possui o significado de “penhor”, exatamente porque Ele constitui a primeira parte do pagamento do total que será recebido no futuro. Penhor significa dinheiro pago em compras, como garantia de que o total da conta será pago subseqüentemente.

Portanto, diz Paulo que o Espírito Santo é a garantia de que Jesus voltará para resgatar a propriedade que é dele (1 Pe 2:9).
O próprio Senhor Jesus, em João 14:2 e 3 declara: “Na casa de meu Pai há muitas moradas ...e quando eu for e vos preparar um lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” .

O céu é um lugar e tão logo esteja ele preparado, o seu nome será chamado.’’

Mas um fato: “O campo de batalha estava juncado de cadáveres. O cirurgião já fizera tudo quanto estava ao seu alcance, e agora se sentara por alguns momentos, para descansar. De súbito, alguém disse: “Estou aqui!”.

O cirurgião levantou-se de um salto e correu para o soldado, ajoelhando-se ao lado dele e indagou: “Que posso fazer por você, filho?”.

O soldado abriu os olhos, surpreso e respondeu: “Nada. É que estavam chamando os nomes dos que estão registrados no céu. E acabaram de chamar também o meu nome; então, eu respondi!”

Querido leitor: Está o seu nome registrado no Livro da Vida do Cordeiro?

4ª RAZÃO: o céu significa premiação do que o crente fez em vida (VS. 9:10)

Precisamos deixar bem claro que não se trata de uma salvação por obras. Em Ef. 2:8-9, Paulo deixa bem claro que nenhum ser humano será justificado diante de Deus com base em suas ações.

O que o apóstolo tem em mente quando diz que “cada um receberá segundo o bem ou mal que fez por meio do corpo” é que Deus recompensará aos cristãos que agiram com fidelidade, enquanto os infiéis sofrerão a perda destas recompensas, mas serão salvos, todavia como pelo fogo. (1 Co 3:14,15).

Não sabemos exatamente o que são galardões, porém, sabemos que eles existem, pois Jesus os prometeu aos seus discípulos (Mc. 9:4 e Lc. 6:35).

A palavra grega que Paulo usa aqui para “tribunal” significa “trono para concessão de prêmios”. Há um prêmio que vamos receber quando comparecermos diante de Jesus, e embora não nos sendo revelado o que será, com certeza deve ser algo maravilhoso e surpreendente. Morrer em Cristo é lucro – Fp. 1:21.

CONCLUSÃO Quando Neil Armistrong, em 1969, estava para ir à Lua, passou antes alguns meses treinando, preparando-se, na expectativa de pisar em solo lunar.

Meu amigo, hoje é seu dia , de começar a se preparar para poder pisar, não na Luz, mas no céu. Lembre-se que você só pode ter o céu como uma garantia, se ele lhe for preparado e garantido desde aqui.

Obviamente que não desejamos morrer, mas a morte, sendo inevitável, exige que você esteja preparado para enfrentá-la. Jesus se apresenta hoje a você como o único caminho possível para te conduzir ao céu. Você não precisa temer a morte. Venha hoje mesmo a Jesus e adquira a certeza de pisar no céu, após a sua morte.



Rev. Gildásio Jesus Barbosa Reis
Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Conceito de Hermenêutica em René Padilla









Um dos temas que pude conversar com Padilla foi sobre sua hermenêutica. Alguns pontos precisavam ser melhor esclarecidos, até mesmo em razão do forte componente social presente em seus textos.

O termo “hermenêutica” é uma transliteração do verbo grego "hermēneuein" e significa "esclarecer", "anunciar", "interpretar" ou ainda, "traduzir". Aparece em Lucas 24:25-28, onde é traduzido para o português por “explicar”. Podemos dizer que a hermenêutica nos ensina os métodos ou princípios para tornar algo compreensível (KAISER & SILVA, 2002, pp. 13-15).

Nossa preocupação aqui é com a chamada hermenêutica bíblica e sua relação com o tema da Missão Integral. Com a questão: “De que vale as Escrituras serem normativas se não respondem as perguntas que surgem em nossa situação contemporânea?” (1984, p. 13), Padilla quer mostrar que uma hermenêutica para ser fiel à Bíblia e também relevante para nossos dias, precisa ser contextual. Em seu artigo “Hacia una hermenêutica contextual”, propõe:
Uma hermenêutica que considere seriamente a situação e que faça possível que a mensagem bíblica registrada nos textos antigos tome contato com a situação dos seus leitores e ouvintes modernos, e ao mesmo tempo se mantenha fiel ao seu propósito original (1984, p.1)

Neste artigo, o autor descreve três diferentes maneiras de se aproximar da Escritura: intuitivo, científico e contextual.

2.1.6.1. O modelo intuitivo: Segundo Padilla, neste modelo, o leitor se aproxima da Escritura colocando ênfase na aplicação da mensagem. Nesta forma, na maioria das vezes o leitor não tem qualquer preocupação com a exegese, mas tão somente em como a mensagem extraída da simples leitura tem aplicação à realidade experimentada por ele naquele momento.

2.1.6.2. O modelo científico: Trata-se de uma abordagem em que o leitor se aproxima do texto com o uso de ferramentas exegéticas e sempre preso às tecnicidades. Trata-se de uma tarefa que freqüentemente é realizada por uma pessoa cujo treinamento recebido a ajudou a conhecer bem as línguas originais e as circunstâncias históricas e culturais dos textos no seu âmbito original. Este modelo, históricamente, tem sido conhecido como “método histórico-gramatical” .

Padilla vê certa limitação no método histórico-gramatical em que, segundo ele, esta abordagem crítica não conseguiu propiciar uma aproximação ao texto que fosse fiel ao seu propósito, ou seja, comunicar-se com o leitor comum. Trata-se de um método que, não obstante, ter seu valor, não tem sido muito útil em ajudar o leitor a transpor o abismo existente entre o autor original e o leitor moderno (1984, p.3). Ao destacar o valor do método histórico-gramatical Padilla entende que o valor deste modelo está em que considera a natureza histórica da revelação bíblica, mas falha por aumentar o abismo entre a Bíblia e os leitores contemporâneos. O método científico pressupõe que a tarefa do intérprete se limita a definir a mensagem original do texto, deixando de lado a aplicação da mensagem. Sua opinião sobre a tarefa do intérprete é expressa, com muita coerência e persuasão, nos seguintes termos:

A tarefa da hermenêutica não se limita a definir a mensagem original do texto. Além do mais, o intérprete não pode supor que o único contexto histórico concreto que tem que levar em conta é o contexto histórico relacionado ao texto, como se o mesmo fosse um ser ahistórico. A hermenêutica tem a ver com a transposição da mensagem bíblica do contexto histórico original ao contexto histórico do intérprete moderno, de modo que o texto escrito no passado tenha impacto no presente. (1984, p. 3)

2.1.6.3. O modelo contextual: Tendo destacado as limitações dos dois métodos anteriores, Padilla vê no método contextual uma abordagem que procura combinar o que tem de positivo nos dois modelos anteriores e desfaz o abismo existente entre o passado e o presente. Procura falar ao leitor contemporâneo sem perder o significado original. Para Padilla, a hermenêutica não deve se preocupar em apenas encontrar o significado original do texto e desconsiderando o leitor como se este fosse ahistórico (1984, p.3). Ao contrário, a hermenêutica, deve cumprir a função de, além de descobrir o sentido original, deve transportar a mensagem para o contexto do leitor moderno.

Por hermenêutica contextual, Padilla entende:

O contexto do leitor contemporâneo tem muito em comum com o do contexto original da mensagem bíblica e ele pode, consequentemente, apropriar-se dessa mensagem hoje e que esta apenas pode ser entendida corretamente a luz de seu contexto original. Tanto o contexto do texto antigo como o contexto do leitor moderno recebem o peso que lhes corresponde. O objetivo é que o horizonte do texto da situação histórica contemporânea venha se unir com o horizonte do texto, de maneira tal que a mensagem proclamada na situação contemporânea seja um equivalente dinâmico da mensagem proclamada no contexto original (1984, p. 4, tradução nossa)

Para que esta tarefa hermenêutica possa se realizar de maneira eficiente, é preciso que o texto e o intérprete se condicionem mutuamente (GADAMER, 997. p. 455) e deve ser tomado em consideração quatro elementos dentro do circulo hermenêutico: 1) A situação histórica do intérprete 2) A cosmovisão do intérprete 3) As Escrituras Sagradas e 4) A teologia.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um diálogo com C. René Padilla














Tive o privilégio de conhecer pessoalmente C. René Padilla. Nascido no Equador, em 1932, Padilla tem se constituído num dos teólogos mais influentes na igreja evangélica no mundo hispano-americano, quando o assunto é o relacionamento da igreja e a sociedade. Possui vários livros publicados e muitos artigos em diferentes idiomas e revistas. O tema “missão integral” tem uma grande importância em seus escritos, dando assim, uma contribuição significativa no desenvolvimento de uma teologia de missão que reconhece o conflito social.

Como preletor, Padilla tem participado em diversos congressos e conferências regionais e internacionais e, sempre, de maneira muito contundente, tem desafiado o envolvimento da igreja com o mundo.

Entrevista com René Padilla












"Evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, as boas-novas da salvação. Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa dinâmica, encarnada primeiro na vida e ação salvifica de Jesus Cristo. Portanto, ela não pode ser reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito Santo a salvação que foi revelada em Jesus Cristo" C. René Padilla